Sugestão sensorial: ler ouvindo essa canção…
Foi numa jornada com tambor que eu conheci meu Golfinho pela primeira vez.
Eu ainda era uma novata no xamanismo, mas já tinha bagagem suficiente para ir em busca do meu animal de poder. Os animais de poder são como um alter ego. Nosso duplo numa outra dimensão de existência. Eles são como animais guardiões que nos trazem seus talentos, sua medicina e sabedoria.
É bem difícil de explicar a magnitude dessa experiência, mas eu queria muito tentar. Porque no dia que eu conheci o meu Golfinho, senti uma mudança muito intensa acontecer dentro de mim. Como um divisor das minhas águas internas. Literalmente.
A jornada em si é bem simples. Primeiro buscamos uma posição confortável para deitar, depois colocamos uma venda nos olhos, algum pano que possa bloquear a luz do dia. Isso facilita muito a conexão com a jornada, porque nos separa de alguma forma do mundo externo. Em seguida nos conectamos com a respiração, relaxando o corpo, tentando “nos desligar” dos problemas cotidianos. E assim que o tambor começa a tocar, como as batidas do coração, entramos no processo.
Um tempo depois o tambor acelera, então procuramos um lugar da natureza internamente. Estando nesse lugar, saímos em busca de um portal. Uma fenda, uma caverna, um buraco na terra, ou numa árvore, ou mergulhamos num oceano ou num lago tranquilo. Tudo vai depender da experiência de cada um. O objetivo é entrar nesse lugar, para sair em outro. Como se de fato atravessássemos um portal. Então, chegando a essa nova dimensão, chamamos por nossos mestres e guias espirituais. E nos permitimos viver o que tiver que acontecer.
Eu costumava dizer nas partilhas que não acreditava que coisas tão incríveis pudessem acontecer nas jornadas para mim. Que o enredo era tão perfeito que parecia um filme. E sempre duvidava da veracidade da coisa. “Eu estou inventando, não é possível”. Demorei muito para aceitar que por mais que estivesse inventando, a invenção era minha e de mais ninguém. E que o vivido tinha significados simbólicos tão transformadores, que eu demorava mesmo para compreender e assimilar.
Uma viagem absolutamente curativa, regenerante e mágica.
No dia que conheci meu Golfinho estava em busca do meu animal de poder e o nosso encontro foi tão forte que eu mal pude acreditar. Mergulhei num oceano profundo e quando vi, ele se apresentou numa nitidez impressionante. Perguntei se ele era o meu animal de poder. Ele confirmou numa dança alegre e comunicativa. Em seguida fez um gesto como se estivesse me chamando. Então colei meu corpo junto ao dele e por muito tempo, nadamos por águas quietas em silêncio. Talvez tenha sido uma das coisas mais belas que já vivi. E desde então, quando preciso, o acesso. Algumas vezes levo questões, perguntas. Que são respondidas de diferentes formas. Outras vezes, o encontro acontece para simplesmente descansar a alma.
Só vivenciando para conseguir compreender a profundidade da vivência. Como eu queria que as pessoas pudessem passar por isso um dia. Acessar mundos internos nunca desvendados e entrar em contato com sua mais profunda essência.
Mas é isso. A jornada termina quando o tambor passa a ser tocado num ritmo diferente. Primeiro mais lento, depois um toque rápido para que cada pessoa possa entender que é hora de finalizar sua história. E ainda ter tempo de agradecer a todos os seres que se manifestaram (sim, muitos animais e seres podem surgir) e retornar a um estado mais consciente, fechando os portais que foram abertos.
Uau.
Pensando bem, não tenho certeza de que essa vivência seja para qualquer um. É preciso se desvencilhar de preconceitos e julgamentos. Transformar as dúvidas em curiosidade. E parar de se questionar demais sobre o que é certo ou errado. Caminhos como esse precisam de entrega para serem vividos por inteiro. Entrega e coragem. Hoje não consigo mais me imaginar vivendo sem essa dimensão. Não posso e nem quero estar encarnada nesse mundo doido, sem estes lugares de cura e autoconhecimento.
Ao longo da minha existência, ganhei muitos presentes da vida que não consigo mensurar o valor. Descobrir esse Golfinho em mim, foi um deles. Um encontro de almas. Umas das coisas mais incríveis que vivi até agora. Mas para completar a benção, ando de novo sonhando com uma coisa que quando acontecer, vou ter um treco: nadar com um golfinho de verdade. Lá em Fernando de Noronha. Já pensaram? Não ia ser nada mal hein?
Um dia eu ainda chego lá.