Esse ano o Natal aqui em casa foi diferente.
Tivemos a tradicional troca de presentes – aquele momento mágico da noite que todo mundo volta a ser criança – mas junto dela eu tive a ideia de propor uma novidade para galera, dando uma sacolinha a mais de presente para cada um.
Na verdade, dentro da sacolinha misteriosa, tinham dois presentes. Duas propostas de prática espiritual para o ano novo: o Potinho da Gratidão e a pulseirinha mágica das reclamações.
A primeira é fácil e bonita de fazer. Junto de um potinho com tampa, vinha um bloquinho colorido e uma caneta para todo mundo escrever e colecionar os melhores momentos vividos em 2016. Foi uma ideia copiada do Facebook, mas achei tão simples e tão carregado de poesia que resolvi fazer um potinho para cada um da família. O pessoal adorou. Já a segunda proposta… Uau.
A tal da “pulseirinha mágica” foi um rebuliço. Há meses atrás eu já tinha recebido o desafio da minha amiga de Joinville, aquela que eu amo e é a minha dentista preferida – mas tinha desistido nos primeiros dias depois de surtar por descobrir minha total incompetência de realizar a tal tarefa.
Mas com a chegada do fim do ano – e a percepção de todos os erros que eu tinha cometido nesse mesmo ano – achei que era uma boa hora de tentar de novo o desafio e carregar todo mundo que eu amo pro mesmo barco que eu, onde as grandes oportunidades de crescimento estão escondidas atrás das grandes superações.
Bom, a prática da pulseirinha em si é muito fácil de fazer. Você coloca a pulseira num braço. E todas as vezes que reclamar, muda a pulseirinha de braço. Para minha família, eu distribui um monte de elásticos coloridos, porque são fáceis de tirar e porque eu já sabia de antemão que isso ia acontecer muito mais vezes do que eles podiam imaginar. Na verdade, o tipo de pulseirinha que você vai escolher não importa – cada um vai poder usar o modelo que quiser. O que acontece é que a tal pulseira vai se transformar num retrato de quem você é. E é aí que mora o perigo. Porque parece uma coisa fácil né. Mas não é. Se a gente for honesto com o processo, vai ficar chocado com a quantidade de vezes que reclama de tudo, o tempo todo.
Mas por que eu inventei de fazer isso com a minha pobre família? Porque eu acredito profundamente no poder que está por trás das nossas sombras. No que pode acontecer de mágico quando a gente muda o jeito de ver as coisas. E a gente só muda o jeito de ver as coisas, quando tem coragem de colocar uma lupa nas coisas que esconde.
A gente está habituado a reclamar. Habituado a ser chato. Habituado a nunca estar satisfeito com nada. Habituado a olhar as coisas de um jeito negativo. Habituado a julgar a tudo e a todos. E cara, isso é uma energia péssima e totalmente voltada para o lado negro da Força. Na reclamação a vida não flui, não tem espaço, não tem luz, não tem para onde se expandir. Porque a reclamação é uma energia estagnada, repetitiva e muito, muito ingrata.
Na noite de Natal, na hora que a proposta foi apresentada, todo mundo achou muito engraçado. Divertido. Depois de uma hora, todo mundo já tinha trocado a pulseirinha de braço umas dez vezes cada um. E olha que a gente estava numa noite de festa, tranquila e alegre. Imagina numa segunda-feira de manhã, nesse calor que tem feito, no trânsito, indo para o trabalho? Todo mundo saiu da minha casa meio bolado. E eu fiquei feliz por isso.
Talvez a maior sacação dessa prática espiritual não seja a intenção de cura do vício de reclamar, mas nos fazer perceber o quão repetitivos e dramáticos podemos ser na vida. Claro que muitas vezes fazemos a coisa de uma forma inconsciente. Pelo hábito da coisa. Por ignorar a potência negativa da coisa. E por isso mesmo, devemos nos perdoar. E rir desse nosso jeito pentelho de ser. Porque só o humor vai poder nos salvar da raiva que sentiremos de nós mesmos. Foi assim comigo na primeira vez. Eu senti tanta raiva e vergonha de mim mesma que desisti de tentar não reclamar.
Mas dessa vez, eu encontrei uma outra forma de ver a coisa. Porque passei a me observar de longe. E entender que para sair do looping da ladainha é preciso, antes de mais nada, ter muita paciência com a gente mesmo. Se a intenção é mudar a forma de ver, é preciso antes mudar a forma de ser. E essa mudança é possível. Com a pulseirinha no braço, o mecanismo de conscientização vai evoluindo aos poucos. Depois de passar algumas horas sem mudar a pulseira de lado, seu sistema de reclamação começa a ficar em alerta. E antes mesmo de abrir a boca para reclamar de algo, a consciência pára e se pergunta: será mesmo que eu preciso reclamar disso agora? Será que não dá para respirar fundo e tentar transformar o que está me incomodando sem colocar a boca no trombone?
Gandhi costumava dizer que “não existe um caminho para a paz, porque a paz é o caminho”. Eu não quero mais me preocupar com o resultado do processo. E sim, como vou viver o processo. Não importa quantas horas eu vou conseguir ficar sem reclamar. O que eu quero é sentir o sabor dessa alegria de estar ao menos tentando ser uma pessoa melhor. E curtir essa felicidade que é tomar posse de algo tão simples e tão poderoso.
Desejo para o próximo ano que outras pessoas possam aceitar esse desafio e que elas possam afinar seu próprio jeito de olhar para a vida. E perceber o tamanho de espaço que se estabelece para outras coisas incríveis acontecerem, quando paramos de reclamar da vida e simplesmente agradecemos as enormes e incomensuráveis bênçãos que recebemos todos os dias.
Que o Potinho da Gratidão possa contabilizá-las e que o ano de 2016 seja um ano de novos e transformadores padrões de comportamento.
Nossas almas agradecem. E os nossos amigos também!
Feliz ano novo, pessoal!
P.S. Mickaela Lindermann, minha irmã, obrigada mais uma vez por me ajudar a ser uma pessoa melhor. Eu te amo!