Em tempos de luta e combate aos preconceitos explícitos e implícitos que moram na gente, a exposição de Patrícia Piccinini “Comciência”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, é uma oportunidade imperdível para uma profunda e emocionante reflexão sobre o tema.
Eu já tinha ouvido falar da exposição. Já tinha lido sobre ela. Mas nada que pudesse me preparar de fato para tudo aquilo que me esperava. Fiz questão de levar minhas filhas. Já que o buraco era mais embaixo, achei uma oportunidade riquíssima da gente vivenciar junto, o que quer que fosse.
É impressionante como a gente caminha, caminha, mas está sempre precisando reeducar o nosso olhar. E como a arte é generosa para isso. Porque ela sempre nos leva por um caminho sensorial inexplicável que vai nos mudar para sempre. A gente querendo ou não.
Entramos na exposição e ao caminhar pelas primeiras salas, tivemos todas a mesma sensação de termos entrado num mundo paralelo ao nosso. Numa outra dimensão.
O lugar era habitado por criaturas bizarras, esdrúxulas e esquisitíssimas. Senti nas meninas e na minha alma uma inquietação engraçada. Uma curiosidade picante daquelas que a gente só sente quando viaja pela primeira vez para um lugar bem exótico e diferente.
A maioria das obras é de um realismo impressionante. Me lembrou um pouco as esculturas hiper-realistas de Ron Mueck, aquele australiano que faz umas pessoas gigantes em cenas do cotidiano. Talvez pela textura da pele, pelos cabelos de verdade ou pelas expressões que nos parecem tão humanas. Patrícia Piccinini também é australiana. Fui pesquisar um pouco sobre eles depois e descobri que fazem parte de uma patota de artistas plásticos que são considerados “artistas realistas” e que estão fazendo o maior sucesso no mundo.
Mas seguindo o barco, depois de passado o primeiro estranhamento da coisa, percebi que aos poucos, estávamos nos apaixonando pelas criaturas. E eu sabia o porquê. Todas, absolutamente todas as criaturas estavam imersas numa amorosidade indescritível. Todas tinham uma fragilidade e um carinho no olhar, na expressão, no gesto, na forma de ser e se apresentar ao público. Pareciam tão vivas e querendo nos dizer algo tão importante. Eram tão diferentes e tão parecidas conosco.
Estranho. Estranho e maravilhoso. Estranho e profundo. A experiência foi me tomando de uma forma intensa e definitiva. E percebi que o mesmo acontecia com as meninas. Primeiro o estranhamento. Depois a admiração. Depois a paixão. Por fim, um respeito profundo por aqueles seres.
Para quem ainda não viu, aqui está uma grande e fabulosa oportunidade de rever conceitos, valores e impressões sobre o mundo. O mundo de fora e o mundo de dentro.
Sobre os artistas realistas, aqui está o link:
http://www.guiadasemana.com.br/artes-e-teatro/noticia/alem-de-patricia-paccinini-e-ron-mueck-conheca-5-artistas-realistas