A Jornada do Herói

Menina e o barco

Arte de Beatriz CarbonMade

Não.

Eu não concluí a Jornada do Herói.

Não voltei do processo mais forte.

Não entendi tudo que pretendia entender.

Não passei pelas etapas que um herói deve passar.

Não iluminei todas as sombras que desejei iluminar.

Não cheguei nem perto de desatar os nós que precisava tanto desatar.

A vida geralmente não é aquilo que a gente planeja. A vida é o que precisa ser. Ou aquilo que a gente suporta viver.

Mas de todas as experiências que passei nesses poucos dias, naquela linda casa cravada no coração da montanha, talvez uma das mais significativas tenha sido justamente respeitar os limites da minha dor e ter voltado à civilização antes que minha alma se despedaçasse. É preciso muita coragem para se olhar do avesso. Mas com o tempo aprendi que nem todas as experiências precisam ser vividas com dor. Porque eu também aprendi que o amor cura feridas. Que acolher os meus sentimentos, por mais contraditórios que sejam, também cura as minhas feridas. E que ser verdadeira comigo mesma, sempre, também vai curar as minhas feridas.

Estou há alguns dias recolhida no meu ninho e esse tempo foi extraordinário para me fazer entender o quão heroína eu fui, em todo o processo, desde o início até o fim. Heroína por ter tido coragem de ir, heroína por ter tido coragem de partir. Heroína por assumir que minha jornada era mais curta do que a dos outros heróis. Heroína por ter passado aquelas noites em claro chorando dores tão antigas. Heroína por não ter me envergonhado dessas dores. Heroína por ter pedido ajuda. Heroína por ter aceitado ajuda. E, sobretudo, heroína por não esconder isso de ninguém. Principalmente, de mim mesma.

Herói é aquele que tem coragem de viver, mesmo que por dentro sinta muito medo da vida. É aquele que enfrenta grandes perigos, mas também enfrenta pequenos desafios no dia-a-dia que podem ser perigosamente enlouquecedores. Herói é aquele que caminha com a verdade. É aquele que não desiste. Que insiste. Que permanece vivo. Que se refaz a cada manhã. Que encontra a saída dos labirintos, que se desespera com a fragilidade da vida mas que se supera apesar da efemeridade de sua existência.

Não. Eu não concluí a Jornada do Herói. Mas concluo minha vida todos os dias, a cada noite que anoitece e eu não desisto de viver.

Eu agradeço a todos que de alguma forma, me proporcionaram essa curta e intensa história de cura. De camada em camada, vou seguindo pela vida, resgatando cada pedacinho da minha alma que foi perdida.

Eu agradeço. Eu agradeço. Eu agradeço. Eu agradeço.

3 pensou em “A Jornada do Herói

  1. Pois eu aprendi a desconstruir que o sofrimento é que te leva a vitória, as grandes conquistas e a felicidade. Não precisa se justificar em não ter ficado. No meu entendimento você não precisa disso. É possível viver, crescer, se tornar uma pessoa melhor sem sofrimento. Tudo depende das nossas escolhas e do significado que damos ao que se apresenta a nós. Mesmo o que vem do passado em forma de ferida. Eu aprendi que ser feliz é uma escolha, portanto nossa alma, nosso self pode se curar, como você disse, pelo amor. E se você já sabe disso o que você foi FG fazer lá? Muitos beijos. Adoro te ler!

  2. Marcinha, obrigada por cada uma das suas palavras. Serviram de unguento para mim. Eu agradeço… eu agradeço!

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