Marcinha, minha amiga querida
Há umas semanas atrás você encontrou Clara e Catarina no ônibus e perguntou sobre os meus textos. “Cadê os textos da tua mãe, gente?” Elas riram. Adoram você. E trouxeram a notícia como quem traz uma sementinha. Jogaram a coisa dentro de mim e quem diria, a coisa brotou.
Desde então não paro de pensar em você. E nesse vazio que ficou lá no “Onde Habita Minha Alma” desde que me perdi pela última vez. Levei um susto ontem quando me dei conta que tem mais de dois meses que eu não escrevo. Nem uma linha sequer.
É impressionante como a gente se perde nessa vida. A toda hora. A todo instante. Eu sou mestra em me perder de mim mesma. E me encontrar. E logo em seguida me perder. Até parece que a minha existência foi plantada num labirinto.
A grande verdade minha amiga, é que essa coisa de existir para mim é bem complicado. Principalmente existir todos os dias. Porque se eu tivesse que existir só de vez em quando, talvez eu desse conta. Mas todo dia po. É uma canseira esse troço. Principalmente quando a gente se exige inteireza. Aí é que a coisa pega.
Minha alma é um vendaval, você sabe. Bastou ventar mais forte que eu me desequilibro. Há dois meses minha vida deu uma desmoronada – nada grave, os desmoronamentos normais da vida – e aí eu fiquei sem telefone, sem internet, depois tive que mudar às pressas de onde eu morava para o antigo apartamento da minha mãe e desde então, passei a viver acampada entre caixas. Se isso já é uma coisa esquisita, imagina para uma taurina? Fora que eu ando trabalhando exaustivamente na Escola. E trabalhando exaustivamente nesse projeto que é criar dois seres humanos. Parece bobagem . Mas foi o bastante para me perder. E quando eu me perco, a primeira coisa que acontece é eu parar de escrever.
Deveria ser o contrário né. Lembra daquela mãe-de-santo que me disse uma vez que minha escrita deveria ser meu porto seguro, meu norte, minha bússola? Pois é. Pois eu nunca consigo colocar isso em prática. E ao invés de jogar esse bote salva-vidas na água, eu fico me afogando que nem uma louca no mar de todos os dias. Por que eu faço isso? Porque eu sou um ser humano e apesar de toda genialidade genética da minha espécie, no fundo eu sou um poço de contradição e chatice.
Mas enfim, minha bichinha, às vezes a mágica acontece e uma pessoa do nada chega na vida da gente e sopra uma esperança. Como foi o seu caso, lá naquele ônibus, quando fez a tal pergunta para as meninas.
Por isso, e por mais um bocado de saudade, resolvi vir aqui te escrever e dizer, que mesmo perdida, eu vou seguindo o curso do rio. Porque no fundo acredito que alguma hora, alguma correnteza vai fazer sentido. Que as desventuras em série vão se esclarecer, os medos vão se dissipar e o equilíbrio vai voltar a governar. Pelo menos até a próxima encruzilhada.
Tem duas coisas que tem me ajudado muito no labirinto: uma é chamar pelo presente. Conhece aquele gnomo da luz, Eckart Tolle? Cara, desde que descobri esse homem e essa teoria do “Poder do Agora” que não paro de pensar no quanto é possível dissipar as angústias se a gente chama pela nossa simples presença nos dias. Essa teoria dele é genial, mas como tudo no cotidiano, fica forte quinze minutos e se perde no resto das 23 horas e quarenta e cinco minutos do dia. Mas esses quinze minutos! Ah caramba! É o nirvana. Porque é isso Marcinha! Não existe nada que não seja o momento presente. No fundo, no fundo, repara. A gente tá sempre sofrendo muito pelo que passou ou pelo que ainda nem chegou. Faz uma lista! É impressionante descobrir o quanto a gente é refém dessa merda de mente pensadora enlouquecida e esquizofrênica. Mas enfim.
E a outra é pensar, assim que eu acordo, onde é que está meu coração naquela manhã. Aprendi isso com uma amiga querida aqui de Niterói, a Catita. Uma irmã de caminho maravilhosa que você ia adorar conhecer. Ela me ensinou que grande parte da desconexão da gente diária se dá, porque nem todo dia a gente sabe onde está nosso coração. Situá-lo no mundo significa essencialmente nos ouvir a cada manhã. Entender e acolher a forma que acordamos. Entender se estamos fortes para a luta, ou sensíveis demais. E nos alinhar para a forma que conduziremos o dia. E nos respeitar apesar de todos os pesares.
Eu me alinho muito quando ouço músicas que habitam minha alma. E acendo uns incensos cheirosos. E tomo um café com Adélia Prado e faço minhas preces de gratidão à vida e a todas as infinitas bênçãos que tenho – apesar de ainda desejar tantas que ainda não tenho (olha a contradição aí de novo pentelhando). Mas enfim, paciência Tatiana, paciência com a sua humanidade.
E como humana anônima repito: só por hoje consegui escrever. Só por hoje consegui me conectar. Só por hoje tenho coragem de confessar: morro de saudade e desejo de voltar aos palcos contigo. Uma hora dessas, eu encontro a saída e a gente vai ser capaz de se reencontrar. Não só na vida, como na arte.
Te amo, minha irmã. Nunca se esqueça.
Beijos da tua eterna, Tatiane Pelinque
Sua lindaaaaa!!! Me emocionou! Há tempos não recebo uma carta de amor e amizade! Preciso te encontrar! Meu ♡ tá me dizendo q tem q ser logo! Nunca esqueci vc! Qdo encontro suas meninas, vejo vc! Lindas e amorosas!!! Sua escrita anima o outro! Isso é dom! Até já Tati! Obrigada pela semente brotada!!!
Minha querida, essa segunda-feira acordou numa imensa alegria. Despertei e foi graças a você minha flor! Vamos nos encontrar! Ao vivo e a cores. É primavera. Vamos florescer Marcinha!
Tati, seus textos me enchem de esperança, na vida e na minha própria escrita. Continue, escritora. Te amo!
Beijo,
Sua irmã Bru