A vida às vezes se revela de forma estranhíssima. Mas é preciso estar atento e forte para decodificar os sinais, por mais esdrúxulos que eles pareçam ser.
Tudo começou na semana passada quando Catarina reclamou comigo, amorosamente, que eu agora tinha dado para cuspir enquanto falava.
Depois de fazer cara de nojo e rir, pedi desculpas para ela e disse que era um movimento involuntário. Que eu nunca tinha percebido isso em mim. Mas que ficaria atenta.
De noite comentei com Edu sobre o episódio e ele danou a rir. E confirmou que já tinha reparado que de uns meses para cá eu andava cuspindo para falar.
– Cruzes, eu pensei. Troço mais nojento alguém que cospe para falar.
Dali em diante passei a me policiar. Até que um dia consegui confirmar o crime. Vi com nitidez o perdigotozinho ser expelido da minha boca. Que coisinha nojenta. Na hora me deu muita vontade de rir. Depois me veio uma enorme curiosidade de entender, porque de um dia para o outro, eu tinha começado a cuspir para falar.
A resposta veio de uma forma mágica e surreal, como quase tudo na minha vida.
Eu estava folheando meu livro de cabeceira, “A Doença como Símbolo” de Rüdiger Dahlke (Pequena Enciclopédia de Psicossomática) a procura das possíveis causas emocionais da pressão alta do meu namorado, quando dei de cara com a palavra PERDIGOTO no dicionário.
– É agora, pensei comigo. É agora que eu vou entender esse cuspe na minha vida.
Qual foi o meu choque ao me deparar com o que estava escrito. Como um soco na boca do estômago, ou um safanão na cara daqueles de novela, as causas emocionais dos perdigotos me jogaram num vazio existencial profundo.
Lá dizia:
“Plano corporal: boca (expressão). Plano sintomático: cuspir ao falar, cuspir nos outros durante uma conversa: expressar agressividade inconsciente, fala molhada, fala da alma: a carência de uma participação anímica interior torna-se visível. Tratamento: tomar consciência dos planos que inconscientemente vibram junto com a fala, proporcionar válvulas libertadoras à alma em sua própria expressão, conceder espaço aos conteúdos que vem através dos modos de expressão.”
Gente! Que loucura!
Eu tô cuspindo nas pessoas porque não escrevo, porque há meses não expresso meus turbilhões internos, não dou vazão às questões da minha alma e não escrevo mais.
Caramba.
Caramba.
Aquilo foi para mim um dos maiores insights dos últimos tempos. Sem terapia, eu tinha conseguido sozinha entender de onde estava vindo tanta tristeza, apatia, desânimo, confusão mental e cuspe: falta de escrita.
As minhas desculpas são sempre as mesmas. Falta de tempo, excesso de demanda. Mas a verdade é que nos últimos meses desse conturbado ano de 2018 a gente tem vivido uma depressão coletiva. Com tudo que tá acontecendo fora, tem sido difícil acessar o dentro. Porque essa coisa de matar um leão por dia cansa muito. E quando eu chego em casa de noite, só penso em comer, tomar banho, engolir uma melatonina e cair dura na cama. Acho que esse processo é um desejo inconsciente que o sonho resolva para mim, tudo aquilo que eu não consigo resolver na realidade. Não é a toa que tenho tido tanto pesadelo. Mas enfim.
A verdade nua e crua é que talvez eu precise entender que muito mais importante do que dormir, seja despertar. E que escrever seja uma forma de salvar-me desse apocalipse que a gente tá vivendo. Há um peso generalizado. Da violência, da crueldade. Da impunidade, da falta de perspectiva de mudança.
Essa semana eu tive uma visão que estava perdida em alto-mar. Completamente sozinha. De longe eu me via, e não sabia o que fazer para me salvar. Até que a frase do Ferreira Gullar me chegou como um bote salva-vidas: a arte existe porque a vida não basta.
Pronto. Foi o que bastou para eu acordar e perceber que não dá para ficar cuspindo nas pessoas. Eu preciso escrever para entender o mundo. Eu preciso escrever para não morrer. Eu preciso escrever porque em algum lugar da minha alma, eu sinto que ao expor meu coração, eu ajudo a alguém a ter coragem de fazer o mesmo. É preciso encontrar uma forma de salvação em meio ao caos que vivemos. É preciso acreditar que a esperança é a última que morre. E quem sabe até, acreditar que a esperança não morre. Jamais.
“Eu preciso escrever porque (…), ao expor meu coração, eu ajudo a alguém a ter coragem de fazer o mesmo.” Pronto! Já ajudou. Grato, Tati!!!
AMEI TATI!!!!!
Maravilha, Tatiana!!! Maravilha!!!
Amei!!!!!!
O que eu achei? Que sua alma esta certíssima. Que você deve escrever diariamente para ajudar tb a quem pensa que a esperança não mora mais nela.
Saúde e vida longa em paz pra vc!
Saudades!
Pude imaginar você falando essas coisas vindo da alma. Com perdigotos ou sem vc é muito linda e querida. Que bom que existem os sinais. Quem estiver atento os reconhece e com esperança segue o caminho, com certeza.
Amei Tati! ❤
Ahh Tati. Vai, querida, continua. Não desperdice este talento.
É bom demais seus textos ! Nos brinde com sua arte 🌸
Que lindeza!! Gratidão Mulher-Medicina. Sua cura/consciência desperta a nossa própria. Abraço carinhoso,
Gratidão eterna por seus textos, por te conhecer e poder trocar contigo! Mesmo que de longe! 💗
Amei! Como é fácil te ver mas suas palavras!
Q bom q vc voltou a escrever querida!!!! Maravilhoso!!!!
Adorei o conteúdo desta sua reflexão Tati… que possa de fato ser útil na resolução de seus conflitos, internos e externos!! Você tem realmente muito talento e deve exercitar, caso contrário atrofia, como tudo que fica sem uso. Bjos.
Um salve aos grandes trancos e tabefes da vida. Se mantenha så. Escrevendo!
Lindo e verdadeiro! Forte e corajoso! Como vc, Tati, autêntico e espontâneo! Não deixe nunca de escrever….precisamos disso, todos e todas nós!!!!
Amiga linda, escreve! Eu preciso ler ! Seus textos me dão calorzinho no peito. Lembra disso e escreve! Bom seria mesmo com frequência e data pra publicação, pra gente ficar esperando!