Se alguém me perguntasse “onde estou” há mais ou menos um ano atrás, eu saberia responder perfeitamente. Contaria da minha aventura de morar em Niterói há mais de 15 anos e ter me mudado para uma casa com céu no Bosque de Pendotiba. Falaria da missão de ser educadora e professora de teatro na Escola Nossa, do desafio e da alegria de ser mãe de duas meninas incríveis que transformaram completamente minha vida desde que chegaram. Contaria desse meu namorado companheiro com quem divido a vida há oito anos, e do filho dele que surgiu para mim como um presente. Falaria do meu sonho de ser escritora e da gratidão que sinto pela família que ganhei e os amigos que conquistei ao longo da estrada. Enfim!
Há um ano atrás eu sabia exatamente onde estava.
Mas hoje, um ano depois que as nossas vidas foram tomadas por essa pandemia e essa doença que ninguém conseguiu decodificar ainda, eu confesso que estou mais perdida do que jamais estive.
A sensação que eu tenho é que essa doença veio para virar a gente do avesso e colocar à prova tudo o que somos desde que nascemos.
Então, responder “onde estou” hoje significa assumir que acordo de manhã e a primeira coisa que faço é recalcular a rota diante das notícias, para que o fim do dia chegue ao mínimo planejado.
Nunca fomos tão desafiados. Testados. Beliscados pelo destino.
Nunca tivemos tanta certeza de como não dá para ter certeza de nada.
Então, seu eu me pergunto “onde estou” hoje, posso responder pelas próximas 24 horas no máximo.
Estou aqui na minha casa, agradecendo quando acordo saudável e com a notícia que minha família e amigos também acordaram saudáveis. O resto do dia eu sigo tentando fazer tudo. Tentando dar a melhor aula online possível, tentando fazer um almoço nutritivo para gente, tentando dar conta das infinitas atividades domésticas que eu não tenho cabeça nenhuma para fazer. A tarde sigo tentando fazer alguma coisa de útil pela minha saúde emocional, depois tento dar uma boa aula presencial para os alunos que, como eu, estão se aventurando a estar na escola presencialmente. Depois passo no supermercado, tento pensar num lanche divertido, depois chego em casa, tento tomar um banho para tentar relaxar, depois tento escrever um pouco para tentar colocar para fora tudo que estou sentindo e depois vou para cama, tentar dormir. Mas essa tentativa tem sido a mais frustrada de todas.
Nunca tive tanta insônia como agora.
Então, é isso. No meu texto de hoje sobre “onde estou” o resumo é que estou tentando desesperadamente sobreviver a esse tsunami que virou nossa existência.
Alguns dias com sucesso nas tentativas, outros muito frustrada por só ter conseguido acordar/viver e voltar a dormir, sem nenhum acontecimento mais emocionante ou louvável para compartilhar. Mas é isso, pessoal. Tempos de guerra.
Amanhã é um novo dia. Eu vou seguir tentando. Quem sabe nas minhas próximas 24 horas tudo pode mudar. Sigamos… fortes! Não há nada que possa nos ajudar mais do que a esperança de acreditar que dias melhores virão.
Tô me agarrando nisso, gente. Aho!