Outro dia vivi uma experiência extraordinária.
Eu tinha viajado com a minha família para o Sítio São José, em Cachoeira de Macacu e minha mãe cismou que eu precisava conhecer uma árvore.
Minha mãe é esse tipo de pessoa que quando cisma com alguma coisa, essa coisa vai precisar da nossa atenção porque algo inesperado pode acontecer.
Pois bem. Lá fomos nós: minha mãe, John, as pequenas e eu para o Parque Estadual dos Três Bicos, onde morava a tal da árvore.
Caminhamos uns dez minutos num trilha deliciosa, das minhas preferidas: bem úmida, fechada, com milhões de texturas e cores de folhas, um cheiro de terra inebriante. Passamos por cavernas de pedras, raízes esculturais, várias espécies de borboletas. De repente, numa clareira, eu vi a árvore.
Levei um susto.
Fiquei olhando para ela em choque como se tivesse visto um fantasma.
A árvore era nada mais nada menos que um Jequitibá-rosa de 40 metros de altura e um tronco com um diâmetro de mais ou menos sete metros. Um gigante em meio àquela floresta.
Mas de todas as coisas que aquela árvore me despertou naquele dia, talvez a mais arrepiante de todas tenha sido pensar que ela está ali há mais de mil anos.
Gente. Mil anos.
Pensem comigo. Quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, essa árvore já estava ali há 500 anos. Eu não sei para vocês, mas para mim é uma piração imaginar uma coisa dessas.
Bom, naquele dia, quando eu consegui chegar pertinho do tronco, a primeira coisa que me veio ao coração foi a necessidade profunda de me deitar aos pés daquela divindade e reverenciar sua ancestralidade e sabedoria. Depois me levantei e abri os braços para abraça-la quando percebi que Clara e Catarina já estavam abraçadas a ela de olhos fechados há um tempão. Minhas filhas-fadas. Que orgulho meu Deus.
Passamos ali um tempo mágico. Ninguém queria ir embora. Ninguém conseguia acreditar no que via. A presença do Jequitibá era tão forte que a impressão que me dava é que a gente podia senti-lo respirando.
Parece que no Parque Estadual do Vassununga, em Santa Rita do Passa Quatro em São Paulo, tem o maior e mais antigo Jequitibá-rosa vivo no Brasil. Ele tem 3.032 anos de idade. Será que isso é possível?
Mas desde o dia que eu estive na presença do Jequitibá, não consigo parar de pensar nele. Fecho os olhos, coloco na palma das mãos o pedaço de tronco que encontrei dele no chão (esse da foto) e me conecto a alma daquele ser de uma forma estranha e mágica.
Desde pequena sou uma viajante do tempo. Perdi a conta da quantidade de vezes que fui ao Centro do Rio e fechei os olhos, sentada num banco de praça e me imaginei voltando no tempo. Eu abria os olhos e via os bondes, as pessoas elegantes vestidas passeando com seus chapéus, via Machado de Assis escrevendo no Café da esquina. Quantas vezes me vi na praia imaginando o tempo em que essa terra era somente habitada por índios!
Eu acho que não sou do meu tempo. Sempre tive uma sensação física de estar fora dele. O dia que Woody Allen fez “Meia Noite em Paris” enlouqueci. Aquele filme me representa! Mesmo a moça que morava no tempo antigo que ele visita, sonhava em viajar no tempo ainda mais antigo do que o dela, achando que somente aquele tempo deveria ser legal. Minha cara.
Para o futuro nunca me projetei. Até porque a minha cultura cinematográfica me impede de desejar o futuro. Quem viu “Blade Runner” sabe do que eu estou falando.
Mas a verdade é que eu estou sempre pensando no tempo. E aquele Jequitibá me atiçou isso de novo.
Pensando no tempo. E nas dobras do tempo. E nas possíveis dimensões que o tempo nos traz. Quem me dera ter capacidade mental de estudar a fundo a física quântica. Isso sim deve fazer uma pessoa pirar o cabeção. Na física quântica a realidade é comprovadamente relativa. E o tempo não existe como o compreendemos.
Quem sabe essa paixão toda por essa árvore não se justifique porque eu fui uma indiazinha que presenciou o início do crescimento desse Jequitibá há mil anos atrás? Hein? Quem sabe?
Ah Tatiana, isso aí, só o Grande Espírito sabe. Mais ninguém.
Adorei!
Tati, não paro de me encantar e viajar nos seus maravilhosos textos onde viajamos com vc. Obrigada ter vc na nossa vida.
Sandra, minha amada! Eu é que agradeço sua visita aqui na minha casa… e a sua presença iluminada na minha vida! Saudade minha querida!
Tati querida! Como sempre iluminada! Vamos nos encontrar, querida amiga! Saudades infinitas, Ana.
minha carioca amada… nossa… viajei … sei la… essa coisa de passado e futuro mexem muito comigo tambem…. este Jequitibá… que fantastico.. que experiencia maravilhosa… quero conhecer tambem…
Mãe, só você mesmo para pensar em algo assim e – conseguir – transformar em arte. E que jeito majestoso de fazer isso. Amei o texto! Te amo! ❤
Quem sabe, Tati???? Lindo!
Eu não te disse que você tinha que conhecer esse jequitibá? Eu sabia que ia dar nisso!
Eu vivi uma das minhas maiores epifanias numa outra árvore dessas – um jequitibá do mesmo porte (ou talvez até maior) que mora na Floresta da Tijuca (lá pela subido do Horto). Ele tem uma caverna no tronco que comporta umas dez pessoas sentadas dentro! Foi ali dentro que eu ouvi (senti?), pela primeira e única vez na minha vida, uma árvore falar com a minha alma. E ela me falou justamente sobre a minha jornada no corpo da mãe terra. Ainda hoje eu sinto a temperatura do seu corpo, o cheiro daquela ‘caverna’. Sai dali de dentro transformada (e em prantos, claro!)
No ano passado esse jequitibá foi atingido por um raio. Uma parte do seu corpo veio ao chão. Ele está em parte caído na mata. O órgão do governo que cuida da Floresta da Tijuca cercou a área. E o processo de morte-vida-morte está ali para nós vermos esse milagre. Se um dia você quiser, vamos lá pra você ver, sentir e se integrar. Epifanias, minha filha, epifanias que nos ensinam o que é viver.
Divino Jequitibá…Divino Texto. :*