Luz

Existem dois tipos de pessoas no mundo que por apenas uma ação já dizem quem são: as que usam lâmpada branca e as que usam lâmpada amarela.

Não sei como algo tão simples pode falar tão profundamente de alguém, mas isso é fato.

Caminhando esses dias pelas ruas do Ingá, me peguei observando as janelas dos apartamentos com a curiosidade de sempre que me assolam essas paisagens.

Mas ao observar as vidas vividas nas casas com luz branca, cheguei à conclusão que essas pessoas certamente têm um outro tipo de sangue correndo nas veias. Não é possível.

Se alguém entra numa loja e faz a escolha consciente de comprar uma lâmpada branca para colocar na sala de sua casa, isso significa que ela é feita de um outro material completamente diferente do meu. E claro, das pessoas que moram nas janelinhas aconchegantes do prédio do Ingá também.

Escolher o tipo de luz que vai nos iluminar quando o sol se põe, fala muito de nós.

Lá nos primórdios da humanidade, quando anoitecia, a única coisa que nos trazia alguma luz era a Lua. Depois, uma santa criatura descobriu o fogo e daí surgiram as fogueiras que devem ter mudado radicalmente a convivência humana.

Muito tempo depois vieram os lampiões, movidos à luz de velas de sebo e gordura. Que cá para nós, devia dar um toque cinematográfico à existência.

Um belo dia, numa tarde provavelmente inspiradíssima, Thomas inventou a lâmpada elétrica. Mais precisamente no dia 21 de outubro de 1879. Gente! Imagina só a revolução que deve ter sido esse dia na vida das pessoas!

Mas voltando ao meu espanto, de 1879 até hoje, um milhão de possibilidades de iluminação surgiram com a modernidade. E mesmo assim, alguém entra numa loja e resolve escolher uma luz branca para iluminar as noites em seu lar?

Será que as pessoas não percebem o tipo de luz onde estão? Será que incomoda, mas não tanto ao ponto de trocar? Será que elas sentem calor com a luz amarela e acham a luz branca mais fresquinha? Pesquisei sobre isso e não existe tá. É só uma questão psicológica “o frio e o quente” das lâmpadas. Pelo menos essas que a gente usa de LED e que são bem mais econômicas. Mas enfim. Esse não é um texto-denúncia. É só um texto-reflexão. Não quero ninguém chateado por amar luz branca. Só quero entender o que vocês sentem.

Porque tudo bem usar uma luz branca num hospital. É um lugar que precisa estar muito iluminado, te dar uma sensação de assepsia, foco, percepção. Mas em casa? Em casa a gente quer aconchego, abraço. Descanso para os olhos. Descanso para a alma. Não? Uma luzinha de abajur ligado no fim da noite faz a gente esquecer o mundo.

Tem coisas que eu vou morrer sem entender. Essa da luz é uma delas.

Um comentário em “Luz

  1. Eu sempre me fiz a mesma pergunta, Tati: como alguém pode querer morar num apartamento iluminado com essa lâmpada de necrotéreo? É mesmo um mistério…
    Aqui no prédio em frente ao meu tem salas e quartos com os dois tipos de iluminação. E já reparei que os apartamentos com luz amarela tem mais móveis, quadros, objetos. É como se essas pessoas fossem mais “acompanhadas” dos que as vivem imersas nos icebergs…

    Há tanto a se refletir sobre a origem do nosso conforto com essa cor amarelo-fogo… Ou desconforto com o que não é o encontrado na natureza primitiva… Foi uma boa reflexão Tati!

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