Eu tenho paixão por lóbulos.
Não sei de onde vem esse amor, mas é uma coisa muito esquisita. Pessoas reparam em dentes, olhos, peitos, bundas. Eu reparo em lóbulos.
Nunca me esqueço do lóbulo de um senhor que vi uma vez no metrô. Dizem que na velhice nossas orelhas crescem. Mas na verdade o que acontece é uma flacidez da pele que acaba causando um alongamento do tecido. Eu pesquisei sobre isso. Justamente naquele dia que fiquei hipnotizada com o maior lóbulo que vi na vida. O velhinho era do tipo Papai Noel: gordinho e fofinho. Tinha os cabelos brancos, um sorriso largo e umas orelhas grandes. Mas os lóbulos… os lóbulos eram como almofadas penduradas nas orelhas. Uma imperfeição extraordinária. Macios, vermelhos e gordotes. Tive que me controlar. Afinal de contas, minha paixão não se limita a admirar, o que eu quero mesmo é morder. Se aquele velhinho fosse meu amigo eu certamente teria lhe pedido para dar uma mordida.
Ainda bem que tenho filhas que me deixam morder seus lobulinhos. Todas as noites elas rolam de rir desse estranho hábito da mamãe. E adoram. Tomara que me deixem fazer isso até ficarem velhinhas.