São esses presentes que a vida me dá. Um dia eu morei numa cobertura e ganhei um céu. Hoje moro em São Francisco e ganhei um Jacarandá.
Me mudei para esse apartamento onde estamos no ano passado e desde o primeiro dia que cheguei aqui me apaixonei pela árvore que tinha bem em frente à minha janela. Em pouco tempo descobrimos que a árvore era um Jacarandá.
Ela é uma árvore generosa, grande, alta, bonita. Parece um bonsai gigante. A folhagem é bem delicadinha. De um verde vibrante desses que eu amo. Mas o interessante é que ela tem uma copa enorme, frondosa, que se espalha por quase todo o quarteirão e é parque de diversão para um monte de passarinhos, maritacas e outras aves estranhas que nunca vi.
Na primavera surgiram umas flores amarelas deslumbrantes. Foi emocionante acordar e dar de cara com aquela floricultura na minha janela. No verão surgiram umas formas de algo que pareciam borboletas. Mas foi no outono que descobri que eram sementes. No inverno elas secaram e caíram no chão. A diversão passou a ser observar o povo passando na rua e ouvir o “croc-croc” de todo mundo pisando nas sementes secas. Um barulhão.
E foi assim, observando e admirando, que surgiu minha amizade com o Jack. Abrindo a janela e agradecendo sua existência bem ali, ao meu ladinho, todos os dias.
Mas de todas as características que contei, nenhuma se compara ao que Jack me oferece de noite.
A luz da minha rua é curiosamente uma lâmpada bem amarelada, bonita, que de noite faz uma iluminação especial na casa quando está tudo apagado. Todas as janelas têm essa luminosidade. Mas na minha janela, com a presença do Jack, algo mágico acontece na minha parede. São sombras que parecem pinturas surrealistas. Difícil explicar.
Na realidade é apenas o reflexo do balançar que as folhas fazem. Mas aos meus olhos é algo tão poético, tão lúdico, que parece cena de cinema. Outro dia eu coloquei uma música e fiquei horas observando o movimento daquelas folhas na sombra da minha parede branca. Juro, meus olhos encheram d’água. Porque a impressão que eu tive é que aquilo era um espetáculo que estava sendo feito só para mim.
Que presentes a vida me dá… O mínimo que preciso fazer é compartilhar.