Foi uma cena simples.
Um pai e uma filha se despediam no portão de embarque do aeroporto.
Ela chorava muito, ele tentava se segurar. A mãe ao lado se emocionava ao ver os dois abraçados.
Ela já era uma moça adulta, mas naquele instante, parecia uma menina pequenininha se despedindo de um grande herói. Quando finalmente conseguiram se desgrudar, a esposa o abraçou e eu percebi que ela também chorava. Ele entregou seu cartão de embarque com o coração despedaçado, a mãe abraçou a filha e a acolheu da melhor forma que pôde.
Ele atravessou o portão, voltou a olhar para trás e ao olhar para as duas, tentou brincar fazendo um gesto de tirar o coração do peito e jogar para elas. Elas de longe, seguraram o coração. Ele finalmente entrou e as duas se abraçaram.
Eu, que já tinha embarcado minhas duas pequenas para a casa do pai, desmontei ali mesmo com aquela cena linda de amor. Não sei se mais alguém acompanhou aquele momento, mas eu segui tomando meu café com o coração tomado de gratidão.
Eu vejo amor em quase todos os lugares.
Queria que a vida tivesse mais momentos assim. Esses fragmentos de tempo carregados de sentimentos genuínos e profundos. A humanidade, em sua melhor versão. Como é bonito testemunhar a vida assim. Bonito e verdadeiro.
Eu vejo amor em muitos lugares. Vejo amor nessa despedida. Vejo amor na moça que me serviu o café com um sorriso imenso e gratuito. Vejo amor no taxista que me levou de volta para casa contando do nascimento de sua filha. Vejo amor quando vejo alguém ajudando a senhorinha a atravessar na Praia de Icaraí. Vejo amor na dona do cachorro dando água para ele num potinho no calçadão. Vejo amor no rapaz que dá moedas para o artista de rua que soprou fogo nesse calor de 40º. Eu vejo amor na moça de patins, dançando de fone. Vejo amor no rapaz que acaba de piscar para ela.
Há amor em muitos lugares. A gente só precisa estar com os olhos da alma bem abertos para perceber.