Entrou na praça e viu.
Uma revoada de pombos vinha em sua direção.
Juntos faziam um desenho quase geométrico
no azul daquela tarde de sol.
No momento em que passaram sobre sua cabeça,
fechou os olhos e com a alma
fotografou o instante.
Sorriu.
Guardou a fotografia na gaveta dos sonhos e seguiu em frente.
Costumava fazer isso todos os dias de sua vida.
Colecionar instantes.
Esses, que tornavam sua existência sublime.
Alimentava o sonho infantil de pedir a Deus
um último desejo antes de morrer:
assistir por inteiro a seleção de instantes
que guardara ao longo dos anos.
Como num filme, onde teria enfim,
a essência do que fora sua felicidade.