Este texto é especialmente dedicado ao Roda de Lobas
Sábado passado vivi umas das experiências mais bonitas dos últimos tempos.
Há vários anos minha mãe Irene reúne mulheres (e alguns poucos homens corajosos) para celebrar a entrada da Primavera. É um evento grandioso, mas muito simples em seu propósito. Eu já tinha ido há alguns, nos anos passados. Me lembro como se fosse hoje da Clara pequenininha correndo cheia de flores no cabelo por entre as muitas saias que rodopiavam por lá. Mas este ano aconteceu alguma coisa especial.
O encontro aconteceu na Casa Tebekato, um lugar fora do tempo e do mundo em São Conrado. Um espaço verde, de mata abundante, piscina natural e uma energia extraordinariamente positiva – já que é uma casa alugada especialmente para trabalhos espirituais. As convidadas são, em sua grande maioria, as muitas mulheres que frequentam os grupos que minha mãe ministra do estudo do livro “Mulheres que Correm com os Lobos”. Ela vem fazendo esse trabalho há mais de dez anos. São diversos círculos de mulheres que se reúnem mensalmente para estudar o livro e estudar profundamente o que o livro causa dentro delas.
Como dizem por aí, eu sou uma “loba coroada”. Terminei a leitura do livro, com o primeiro grupo que se juntou em 2004, depois de quatro anos de estudos. Praticamente uma faculdade de psicologia. Foi engraçado como tudo aconteceu. Minha mãe comprou o livro e começou a ler. Alguns meses depois comprou um para mim e me deu com recomendações seríssimas: “Minha filha, você PRECISA ler este livro.” Com o passar do tempo, descobrimos que todas as mulheres que liam aquele livro, passavam pelo mesmo processo: o despertar profundo da Mulher Selvagem que habita dentro de nós. E com ele uma enxurrada de insights que simplesmente não dava para vivenciar sozinha. Divulgamos o encontro para falar do livro e de repente, se juntaram na minha pequena sala da Gávea, mais de vinte mulheres ansiosas por dividir o que estavam passando silenciosamente em suas vidas. Foi demais! Foram anos de muitas histórias, muitas lágrimas, muitos aprendizados e, sobretudo, um belíssimo despertar do nosso feminino sagrado.
Pois bem. Imaginem que minha mãe já está na formação de seu 11º grupo de estudos de “Mulheres que Correm com os Lobos”. E na Celebração se reúnem quase todas as mulheres que já passaram e estão passando por essa experiência. É uma loucura!
Esse ano levei comigo umas amigas queridas, minha Clarinha – que ficou responsável por fotografar o evento e estava empolgadíssima com isso – e Catarina, que no meio do mato fica como um beija-flor. Chegamos lá, tiramos os sapatos, abraçamos meia dúzia de mulheres e descemos para o jardim. O dia estava radiante. Calor, céu azul. Pássaros cantando. Aos poucos, outras tantas mulheres chegaram. De uma hora para outra, Djaala – umas das maravilhosas companheiras de trabalho da minha mãe – começou a puxar uma fila de mulheres que deram suas mãos e iniciaram uma dança silenciosa, em direção à piscina. Pronto. Ali já comecei a ter um treco de emoção. Como uma grande irmandade, fomos dançando e caminhando, dançando e caminhando, até que chegamos até a piscina e nos sentamos ao redor dela, com os pés dentro d’água. Tudo silenciosamente, com sorrisos floridos no rosto. Depois que todas estavam acomodadas, tive o desejo de cantar com aquelas mulheres, velhas canções que despertassem o melhor de todas nós. E foi maravilhoso. Porque cantamos todas juntas, em uníssono, bem baixinho, como se de alguma forma, chamássemos algo há muito adormecido em nós. Não tive dúvida. Com o calor e minha mulher selvagem já correndo nas veias, pulei na piscina de vestido, sem me dar conta que Djaala tinha feito a mesma coisa, ao mesmo tempo que eu. Saímos d’água, nos reconhecemos na travessura e gargalhamos dizendo: “Lobas coroadas”! Não foi preciso muito tempo para que as tantas outras nos seguissem, mergulhando na piscina refrescante da Tebekato.
Quando Maria chegou – nossa querida convidada que seria responsável por conduzir as danças deste ano – aproveitou a cena de filme e mergulhou na piscina para dar inicio as danças ali mesmo dentro d’água. E dançamos as canções de Juremar, unidas numa só voz e coração.
Se o dia tivesse terminado ali, já teria sido um dia perfeito. Mas tantas outras coisas nos esperavam naquele dia mágico. Tivemos a montagem do altar – na base de uma linda e centenária árvore da Tebekato – com flores, velas, incensos e mel para reverenciar o novo ciclo da Mãe Terra, meditação ao ar livre, um almoço coletivo maravilhoso, mais danças e por fim, uma fogueira especialmente acesa para transmutarmos desejos, intenções e todas as mudanças possíveis que a gente sonha na entrada da Primavera.
Naquele sábado senti um orgulho muito profundo pelo trabalho que minha mãe vem fazendo ao longo desses últimos anos. O despertar do que há de melhor, mais sagrado, mais feminino e poderoso dentro de cada uma daquelas mulheres. Catarina foi chamada por ela no final da montagem do altar e as duas trocaram meia dúzia de palavras. Na volta da conversinha com a avó, ela sentou ao meu lado com um sorrisinho feliz. Eu perguntei: “o que Vovó disse para você, filha?” Ela respondeu com o peito cheio de orgulho: “que eu sou a herdeira disso tudo aqui”. E me deu uma piscadinha. É minha gente, a força do mundo não está nas mãos de ninguém. Está no ventre das mulheres. Aho!
Maravilhosa vivência! Maravilhoso dia! Foi uma alegria compartilhar esse dis tão especial com vc, loba coroada! Gratidão!🙏
Maravilhosa eterna historia das mulheres. Obrigada a Irene E toda a familia criada por ela.
Eu ja havia escrito…Sera que saiu?
Lindo é pouco pra tudo isso!!! Obrigada!!!! Obrigada!!!!
Que relato encantador! Em pensamento, coloquei meus pés na piscina da Tebekato, com vocês!
Que bom que você compartilhou aqui tudo o que viveu lá!
E que linda maneira de honrar a ancestralidade do feminino de tua família!
Um beijo, minha querida!
Livia
Gostei muito e compartilhei!!
Lindo!
Celebrar a vida, celebrar os ciclos, celebrar o sagrado que nos é dado pela Grande Mãe!
Isto é o que fazemos na Celebração da Primavera! É neste momento mágico que replantamos nosso Ser todos os anos para que ele floresça, frutifique e morra para ressurgir em vida a cada novo ciclo. Catarina vai seguir a tradição, eu sei, porque me foi revelado que ela é a herdeira. Que assim seja! Assim será!