Ontem encontrei no computador um arquivo de fotos antigas das meninas. Um que eu não via há muitos anos. Foi um choque. Chorei tão sentida que fui dormir estragada.
A experiência de ser mãe nessa vida para mim, tem sido um desafio indescritível. Em todos os níveis, em todos os sentidos, em todas as camadas do meu ser.
Quando Clara chegou há 18 anos atrás, aconteceu uma coisa estranhíssima. Eu achei que ia morrer. Eu olhava aquele bebê e achava que não ia suportar o amor que tinha invadido meu peito. Que ia explodir de tanto amor. Engraçado né, mas eu lembro dessa sensação avassaladora como se fosse hoje.
Quando Catarina chegou, quatro anos depois, eu já sabia que não ia morrer. Sabia que aquele amor cabia dentro de mim. Mas mesmo assim, eu morri. E de novo não acreditava o que aquele serzinho gorduchinho podia fazer com o meu coração.
Foram anos completamente entregues a aquele amor. Tive a sorte de poder cuidar das minhas pequenas de perto. Acompanhar cada passo, cada mudança, cada transformação que acontecia no corpo e na alminha delas.
Mas ontem, quando encontrei aquelas fotos e aqueles vídeos delas pequenininhas, me dei conta de uma coisa muito estranha: nossos filhos vão crescendo, amadurecendo, se transformando e isso é maravilhoso.
Mas ao longo desse processo a gente vai perdendo os filhos das idades que vão passando. Eu sei que a Clarinha de 5 anos habita na Clara de 18. Mas aquela criança de maria-chiquinha, de pijaminha de urso, maquiada de gatinha, dançando Saltimbancos Trapalhões, não existe mais. Pelo menos não fisicamente.
Quando eu descobri isso, chorei um luto estranhíssimo.
Eu sei que é uma loucura isso que eu tô falando. Que parece uma bobagem que não tem tamanho. Mas a constatação disso ontem me deixou muito triste. E com certeza deve ter umas mãezinhas por aí que já devem ter sentido isso.
Achei um vídeo da Catarina dela de cabelinho Chanel, franjinha e sem os dentes da frente que eu fiquei quase louca. Nessa época ela fazia muitos vídeos no celular. Tipo uns vlogs. Onde ela começava o vídeo dizendo: “Oi gente. Meu nome é Catarina e eu tenho 6 anos. Bem-vindos a mais um Coisas da Vida.” E ela fazia uns closes na cara engraçadíssimos e andava pela casa da avó mostrando os cômodos e as coisas que estavam acontecendo por lá.
Olho para minha Catita de hoje, de 14 anos e vejo uma menina linda, doce, companheira, maravilhosa, adolescendo lindamente. Sei que aquela banguela está lá dentro dela… eu sei que está. Mas aquela menininha, com aquele tamaninho, eu não posso mais abraçar. Nem colocar no colo. E isso me dá uma saudade que dói.
Clara está virando uma mulher. Linda, engajada, militante, artista. Quer fazer cinema na UFF e mudar o mundo com isso. É uma grande amiga. Aliás as duas são. O que construímos juntas não tem preço.
Filho é amor que dói. É o nosso coração batendo em outros peitos. É um pedaço da gente que se foi em outro corpo.
Eu jamais poderia ter passado por essa vida sem ter vivido a experiência de ser mãe. Mesmo que não pudesse ter tido filhos do ventre, eu certamente teria adotado. Maternidade é uma coisa que a gente nasce com. Ou não. É uma coisa instintiva que você tem ou não tem. E tudo certo. Mas no meu caso especialmente… caramba… esse instinto veio atropelando. Acho que eu poderia ter tido mais uns cinco filhos que a cada um, eu ia sempre achar que ia morrer de amor.
Essa fase agora da adolescência é um desafio. A gente ouve falar, mas não imagina o que vai enfrentar. Cada dia é uma luta. Cada dia um aprendizado diferente. Horas amando incondicionalmente, horas querendo esganar. É preciso muita paciência. Paciência e muita conversa.
Eu tenho saudade de trocar fraldinha. De sentir aquele cheiro delicioso do cocô amarelinho de leite. De dar banho na banheira com água morninha e sabonete Granado. Secar o corpinho macio e cheiroso nas toalhas felpudas com gorro. Dar de mamar. Dar papinha de maçã. Ouvir a gargalhada das minhas gorduchinhas enquanto eu secava os dedinhos do pé. Eu tenho muita saudade de quando elas cabiam nos meus braços. E a gente adormecia junto na cama de tarde.
Que elas não me ouçam pelo amor de Deus, mas acho que eu não vejo a hora de virar vovó.