Para Rosane
Esse ano eu amanheci diferente.
Também pudera.
Dia 31 não fiz nenhuma lista de metas para o próximo ano. Não prometi nada para ninguém nem para mim mesma. Não fiz nenhuma expectativa para a festa de réveillon. Não tive pressa do tempo.
No último dia do ano, passei o dia experimentando a difícil e linda tarefa de não reclamar de nada. De verdade. Respirando fundo quando me aborrecia. Agradecendo mentalmente tudo aquilo de maravilhoso que tenho em minha vida. Agradecendo a chance de estar viva e poder recomeçar. Tentando me perdoar pelos erros que ainda me atormentavam. Mas, sobretudo, desejando ter entendido tudo que a vida me ensinou, para pelo amor de Deus não ter que voltar para mesma lição, toda de novo, no início do ano.
Esse ano eu amanheci diferente.
Com um propósito simples de olhar para vida de um lugar diferente. Todos os dias. Como se eu simplesmente pudesse mudar de ângulo. De perspectiva. Numa mesma vida. Num mesmo corpo. Numa mesma alma. E parte dessa decisão se conectava justamente ao ato de não querer mais reclamar. Reclamar é um veneno que intoxica. E apodrece a gente por dentro.
Transformar o lamento em alguma coisa melhor pode ser um ato diário extraordinário. Porque todos os dias eu preciso lavar louça. Mas não é por causa disso que preciso me estressar tanto. É preciso reinventar a coisa. É preciso aprender a brincar com a espuma. Conversar com as xícaras. Fazer poesia com as panelas.
Foi quando me lembrei de um texto que recebi de uma amiga querida esse ano que dizia assim:
“Eu venho de um lugar que é luz mesmo em noite escura. Que é paz, fé e carinho.
Eu venho de lá e não estou sozinho, “sou catador de lindezas”, sobrevivo de encantamento, me alimento do que é bom, do bem. Procuro bonitezas e bem querer, sobrevivo do que tem clareza e só busco o que aprendi a gostar.”
Nessa hora, minha alma deu um estalo. E eu decidi o que queria fazer em 2017. Ser catadora de lindezas. Virar uma caçadora de poesia nas coisas escondidas. Mudar o olhar para o mundo. E fazer isso diariamente. Não só no dia de inspiração profunda. Mas também no dia da tristeza, do mau humor, da desesperança. Para mudar, é preciso alterar as nossas configurações mais profundas. Parar de reclamar é uma escolha. Viver poeticamente também.
Esse ano eu amanheci diferente.
Também pudera.
Voltei a escrever.
P.S. O trechinho do texto lindo é da autora Rita Maidana.