Tenho fascinação por gente idosa. Uma admiração mesclada com respeito tão forte, que quando cruzo com algum velhinho na rua, a vontade que sinto é de lhe fazer uma reverência. Olho impressionada para aquele ser que passa e me pergunto há quanto tempo estará ele caminhando. Quanta vida não viveu, quantos problemas enfrentou, em quantas encruzilhadas não deve ter sofrido a dura tarefa da escolha. Não estou falando de meses nem anos. Falo de décadas. Experiências profissionais. Emocionais. Casamentos. Filhos. Viagens. Perdas. Frustrações. Meu Deus! Eu tenho 33 anos e as vezes me sinto tão cansada. Imagine se eu viver até os 99? É toda a minha vida, mais o dobro de tudo que vivi. Considerando que os primeiros anos foram só diversão, 66 anos pela frente me parecem uma história sem fim.
Outro dia cruzei na rua com um senhor que já devia ter seus oitenta e tantos anos. Vinha de bengala e caminhava com calma e elegância. Tinha a cabeça toda branca e estava muito bem vestido. Olhou para mim, abriu um enorme sorriso, me cumprimentou com um educadíssimo “boa tarde” e seguiu em frente – se tivesse um chapéu certamente o teria tirado da cabeça. Fiquei com tanta vontade de convidá-lo para tomarmos um chá… Imagina quantas histórias maravilhosas não terá esse homem para contar? Que diferencial tem esses cavalheiros… Meu feminismo vai por água abaixo quando um homem me abre a porta do elevador ou me cede o lugar para sentar. Me sinto uma dama. E me derreto com essa gentileza que os homens da minha geração perderam.
A questão é que não posso ver um ancião sem considerá-lo um verdadeiro herói. Um guerreiro espiritual. Um coração batendo, ininterruptamente, durante toda a existência! Já imaginou o que é isso? Deve ser muito difícil para um pessoa que nasceu com os bondes ver o mundo do jeito que está. Eles foram espectadores de muita degradação e não puderam fazer nada. É claro que a modernidade trouxe muitos benefícios para a humanidade. Mas imaginemos como deve ser estranho aos olhos de quem já viveu quase um século, toda essa espantosa transformação da realidade. O caos se instalou muito rapidamente. O universo dos meus avós era completamente diferente do que vivemos no presente. É como se eu vivesse hoje e velhinha estivesse no cenário de Blade Runner. Nada simples.
A proximidade da morte também não deve ser fácil. Não ter todo um futuro pela frente. Estar na tal fase de descida da vida. Não gosto dessa imagem de subida e descida. Prefiro pensar na metáfora de uma escada que se sobe a vida toda e que quando acabam-se os degraus, é sinal de que chegamos. Seja lá onde for. Chegamos.
Eu vou gostar de ser velhinha. Ter uma vida toda de histórias para contar. Filhos e netos para amar. Amigos de toda uma vida que também estarão velhinhos como eu. Não quero fazer plástica a não ser que minhas pálpebras estejam me impedindo de continuar a ver o mundo. Idealizo minha velhice como um tempo de calmaria interior. Uma serenidade que tomou o lugar da ansiedade que quase me matou na juventude. Um tempo de ter mais tempo. Ou ao menos, uma relação diferente com o tempo. Curtir o sabor divino da sabedoria. Olhar no espelho minhas rugas e ter a certeza de que tudo que fiz, fiz da melhor maneira que pude.