Trânsito: uma história de amor e fúria

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De todas as provações humanas talvez uma das mais perigosas e patéticas seja o trânsito.

Penso, penso e não consigo encontrar um lugar mais perfeito para radiografar a nossa alma do que esse covil de máquinas ambulantes. Bestas e santas criaturas se revelam e não podem esconder sua face porque a coisa está toda ali, na cara de todo mundo e não há disfarce que possa esconder quem você é.

Vejo por mim. Eu não sou nenhuma santa, mas estou trabalhando muito pela minha tentativa de evolução espiritual. E mesmo eu, que ouço mantra, medito, rezo e peço a Deus todos os dias por muita paciência já me peguei no trânsito com desejos compulsivos e assassinos.

Veja bem: se eu estou numa via rápida distraída, dirigindo lentamente e vem alguém e me dá uma piscadinha, eu acho chato, mas saio para pista do lado. Agora, se eu estou numa via rápida, dirigindo rapidamente e vem um carro, desde lá debaixo, piscando o farol freneticamente para eu sair da frente dele, o tempo fecha. Como é que essa pessoa se acha no direito de me mandar sair da frente dela se eu estou na velocidade adequada para a pista? Não, porque a mensagem subliminar desta infame piscadinha é: “sai da frente sua mosca, porque você está me atrapalhando”. E aí, o que acontece, é que toda a minha suposta elevação espiritual começa a ir por água abaixo. O meu sangue ferve e dele desperta o monstro negro que mora nas minhas entranhas. Ao invés de simplesmente sair, eu diminuo a velocidade e fico no retrovisor fazendo um gesto de “ué, fofinho, passa por cima.” Feio. Muito feio.

A pergunta é: por que uma coisa dessa tão simples me tira tanto do sério? Eu não sei responder. A verdade é que eu faço isso, mas morro de medo do apressadinho atrás ser um psicótico e se irritar com o meu sarcasmo e apontar uma arma para minha janela, gritando: “quer morrer, madame?” Às vezes os caras insistem. Se isso acontece, geralmente acabo engolindo a raiva e saio da pista por medo da loucura dos outros. O carro passa por mim e eu faço um esforço enorme para não mandar um dedo do meio para o desgraçado. Se estou num dia mais tranquilo, até consigo respirar fundo, contar até dez e desfiar meu rosário de frases feitas que me ajudam a me acalmar do tipo “apressado come cru hein” ou “vai tirar a mãe do puteiro vai!”. Mas essas frases ridículas nunca me isentam de sentir no fundo um peso enorme pela tristeza da mediocridade humana.

Claro que onde há sombra, há luz. E da mesma forma que me irrito profundamente com a falta de educação das criaturas humanas no trânsito, também me emociono e tenho vontade de chorar quando as pessoas mostram o lado mais bonito delas em gestos simples e generosos. É a mesma piscadinha do carro da frente que me faz sorrir, quando estou para entrar numa rua que não tem sinal e o carro pára o fluxo do trânsito para educadamente me ceder a vez, para que eu entre antes de todos. Poxa, isso é lindo demais.

Mas voltando ao lado negro da força, o trânsito já enlouqueceu muita gente. Às vezes uma fechada, uma vaga roubada ou apenas uma buzinadinha pode trazer a tona uma fúria cega que mora dentro da gente. Outro dia recebi um texto muito bom sobre isso (dizem que é do Arnaldo Jabor, mas texto de internet sempre é uma incógnita) Chama-se “A Lei do Caminhão de Lixo”. Ele fala que as pessoas são como caminhões de lixo, que acumulam um monte de raiva e frustrações dentro delas e que na primeira oportunidade, querem despejar toda a porcaria em cima de quem topar. Deus me livre um lixão desses.

Tudo é mesmo uma questão de como a gente se coloca na vida. Outro dia um velhinho me deu uma fechada daquelas de doer. Minhas filhas já me conhecem, não me aborreço com velhinhos dirigindo porque acho que eles têm licença poética de fazer umas besteirinhas no trânsito. Mas esse dia a fechada foi feia. Eu já ia reclamar quando passo pelo velhinho e ele está fazendo um gesto de desculpas… E em seguida me manda um beijo. Fala sério! Morri de amor com aquele velhinho!

Desses retratos de quem somos nós, nunca vou esquecer o enjoo de estômago que saí do cinema, no dia em que vi “Ensaio sobre a Cegueira”. O mundo perde a visão e com ela toda a dignidade humana. Saramago costumava dizer “Não é que eu seja pessimista. O mundo é que está péssimo”. Essas visões sobre nós são assustadoras. Mas nós somos assustadores mesmo. Somos complexos e de uma potencialidade absurda. Para o bem ou para o mal. Podemos ser arrogantes, prepotentes e egoístas. Assim como podemos ser generosos, solidários e profundamente amorosos.

Seja como for, o lema é sempre o mesmo: a vida da gente será o que alimentarmos dela. Se aquele velhinho beijoqueiro me emocionou tanto, é aquele sentimento que eu preciso regar. E não a fúria diabólica que eu senti por aquele Emerson Fittipaldi de araque, piscando alucinadamente para mim, no fundo desejando me transformar em pó. Afinal, de todas as superações humanas talvez uma das mais bonitas e emocionantes seja o perdão.

Adolescendo

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Para Clara Meira

Não. Definitivamente não há cursinho preparatório para gente ter filhos.

Ninguém avisou para gente do neném molinho que ia chegar aos nossos braços, nem da velocidade que as perninhas deles iriam ganhar quando aprendessem a andar. Ninguém avisou das perguntas que a gente precisaria responder, nem do amor avassalador que a gente iria sentir.

Todas as fases dão trabalho. Todas têm sua magia e complexidade. Todas são terrivelmente maravilhosas. Mas nenhuma delas se compara à adolescência.

Muito já foi dito sobre essa fase da nossa existência. Muitos já se debruçaram sobre esse tema. Por isso mesmo gostaria de tentar ir um pouco mais fundo nesse assunto. Essa coisa de dizer que os adolescentes estão desabrochando para a vida é uma visão muito simplista da coisa. Assim como chamá-los de aborrecentes é injusto e preconceituoso. A adolescência é um momento crucial de mudança, um estado dolorido, difícil e febril que todos nós passamos e precisa ser tratado com delicadeza e ternura, para que passe construindo seres e não destruindo essências.

Clara mudou muito desde que o calendário apontou essa mudança de fase em sua vida. Me lembro do aviso que nos deram na primeira reunião da escola, quando ela passou para o Fundamental II. A orientadora pedagógica teve muito cuidado para nos preparar. Mas a sentença era definitiva: em pouco tempo não reconheceríamos mais os nossos filhotes.

Eu tenho tentado com todas as forças enfrentar a coisa com sabedoria e humor. É isso ou me render a uma cartelinha de Rivotril. Mas confesso que os desafios são muito maiores do que podia imaginar. Cada casa deve ter seu drama, claro. Mas aqui a coisa é pesada: temos uma menina virando mulher, um bebê virando menina e uma mulher virando anciã. Uau.

Foi num desses dias de caos temporal que descobri um termo perfeito para o momento. Ela chegou aos prantos e me perguntou com os olhos transbordando de angústia:

– Mãe, peloamordedeus, o que tá acontecendo comigo?

Naqueles olhos eu via o tal desabrochar, mas via também um sentimento adoecido de confusão e medo. Ela tinha um misto de raiva, tédio e tristeza. A coisa saiu da minha boca como se tivesse acabado de ser inventado.

– Você tá adolescendo, filha.

– Como assim adolescendo, mãe?

– É uma fase esquisita onde a gente não é mais o que era e ainda não encontrou o que é. Imagina você se construindo, de dentro para fora e o mundo te moldando de fora para dentro. É meio conflituoso mesmo, mas você vai sobreviver e se tornar um grande ser.

Sabe que ela gostou? Acho que de alguma forma se sentiu explicada. Resumida. Bom, pelo menos naquele minuto.

Eu acho que a minha adolescência foi branda. Desde muito pequena me lembro da sensação de me sentir inadequada no mundo, então quando adolesci o sofrimento não foi assim tão grande. Eu não era desse mundo mesmo, para que sofrer? Eu não me lembro de ter muitos conflitos. Minha mãe já tinha me apresentado para a arte e ela de alguma forma me equilibrava para estar aqui, mesmo que eu me sentisse uma ET. Eu não me sentia obrigada a ser como os outros, nem me encontrar em nenhuma tribo, porque de alguma forma, já sabia que isso era uma ilusão. Então passei essa fase ocupada vendo muitos filmes, lendo muitos livros, escrevendo noites a fio nos meus cadernos. Eu tinha doze ou treze anos quando minha mãe um dia me encontrou numa vernissage no Shopping da Gávea, com uma taça de água gelada nas mãos, observando um quadro abstrato.

– Tá fazendo o que aqui sozinha minha filha?

– Ué mãe, to descobrindo a vida.

Minha mãe também não era fácil. Que mãe leva uma filha de treze anos para ver “Metropolis” do Fritz Lang? Ou “Koyaanisqatsi”, aquele documentário maravilhoso e barra pesadíssima com trilha sonora do Philip Glass, que fala sobre o desequilíbrio da vida moderna? Ela me ensinou muito sobre a vida no cinema. Me lembro de colocar saltinho, boina e óculos de grau para passar por mais velha nos filmes que tinham censura. Às vezes víamos até três filmes no mesmo dia. E tomávamos lanchinho entre um e outro. Era o nosso melhor programa.

Já minha irmã sofreu muito na adolescência. Nunca esqueço o dia que cheguei em casa e ela estava sentada no chão, de braços cruzados, olhando para a parede. Preocupada perguntei à minha mãe:

– O que é que ela tem mãe?

– Quem sabe, minha filha.

Manô pintou o cabelo com parafina e exigia que minha mãe comprasse roupas de marca para ela. Sua tribo era exigente. Ela convivia com a galera surfista do Leblon. Nada fácil.

Nos dias de hoje, Clarinha definiria minha irmã com maestria: ela estava bugada. Esse é o termo perfeito que se encaixa em quase todos os estados emocionais da Clara: quando a coisa não vai bem, ela se define estar bugada. Eu entendo. É muito bugado perder a inocência, ter que entender como funciona a vida adulta e ainda ter que decidir o que se vai fazer com um futuro que ainda nem chegou. É um processo muito pesado para uma criatura que outro dia mesmo tava brincando de boneca.

Ela tem se queixado de solidão. Que os amigos torcem o nariz quando ela fala uma palavra um pouco mais complicada. “É que eu leio muito, galera” se desculpa com um olhar sem graça. Já eu preciso disfarçar o orgulho que sinto dela e lhe digo com o coração apertado que a vida é assim mesmo, que as pessoas vão amadurecendo de forma diferente, em tempos diferentes, dependendo do jeito que cada um é criado e preparado para o mundo.

Hoje me dou conta do quanto valeu nunca ter mentido para ela, nunca tê-la poupado de nada. E ter forçado a barra para ela sempre ir além, além do sentimento, além do pensamento, além da superficialidade de todas as coisas.

Clara está adolescendo. E crescendo. E sofrendo. E todos os “endos” que é capaz. Eu não me preparei para esse pedaço da vida, mas como estou feliz em poder estar ao lado dela nessa caminhada. Estar com minha filha agora é estar imersa naquilo que chamo de resumo existencial: dói, mas é a dor mais bonita que a gente pode passar. Isso é viver.

O Caminho Vermelho

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Entre o nascimento e a morte de um ser vivente, a linha da vida coleciona momentos arrepiantes que, na grande maioria das vezes, é um marco tão forte na vida da pessoa que ela se sente renascendo. Ou morrendo, tudo ao mesmo tempo. Isso foi exatamente o que aconteceu comigo quando conheci o xamanismo.

Me lembro como se fosse hoje. Minha mãe tinha me chamado para uma “coisa” que era a minha cara. Fui de olhos fechados, porque se tem alguém que eu confio me conhecer, é aquela mulher. A tal “coisa” era um lugar onde várias pessoas se reuniam uma vez por mês para estudar tradições e práticas do xamanismo. O grupo chamava-se Espiral Sagrada. Na hora que entrei na sala já senti alguma coisa diferente. Estavam todos sentados em roda e cada integrante tinha à sua frente um pequeno altar montado com os mais diversos objetos. Cada um mais bonito que o outro. Sobre panos coloridos, havia pedras, chocalhos, tambores, animais esculpidos, folhas, amarrados de penas, sementes, pequenas mandalas, objetos que nunca tinha visto antes. O ambiente era agradável. Um cheiro de sálvia pairava no ar. Era possível sentir na pele uma atmosfera de serenidade e calmaria. Busquei uma almofada para sentar e me juntei ao grupo em silêncio. Duas mulheres – coordenadoras do grupo – pediram para que déssemos as mãos para fazermos uma oração. Foi ali que a coisa aconteceu.

No momento exato em que todas as mãos se entrelaçaram, tive uma visão inacreditável. Estávamos todos num imenso e mágico descampado, num outro tempo, sentados à volta de uma fogueira e cantando canções muito, muito antigas. Aquela visão me inundou de uma emoção que eu nunca tinha sentido antes. Uma sensação profunda de pertencimento invadiu meu corpo e eu comecei a chorar. Como se minha alma pudesse reconhecer cada alma daquele grupo e como se aquele lugar fosse a resposta para algo que há muito tempo eu buscava.

Entre idas e vindas, este é o meu décimo ano na Roda de Cura da Espiral Sagrada. E tudo – absolutamente tudo – mudou na minha vida a partir daquele dia. Como se uma nova Tatiana tivesse despertado de dentro da velha e os meus olhos pudessem ter a chance de ganhar uma nova lente para observar o mundo. A mudança de perspectiva foi tão profunda que precisei entrar na terapia para dar conta de digerir tanto conteúdo. Minha sorte? As coordenadoras do grupo são terapeutas e com isso só precisei escolher em qual delas mergulhar. Foi uma experiência maravilhosa. Se em algum momento, tive coragem de ir fundo nas minhas sombras, isso se deve ao fato da minha interlocutora chamar-se Elizabeth Amaral. De longe, uma das pessoas mais incríveis e fascinantes que já conheci.

Foi ela, nossa querida Beth Bear – como é carinhosamente chamada pelo grupo – que me ensinou que na Grande Teia da Vida, é preciso compreender que não somos seres terrestres vivendo uma experiência espiritual. E sim seres espirituais vivendo uma experiência terrena. Nossa. Isso muda muita coisa, não muda?

O xamanismo é chamado de “o caminho vermelho, ou o caminho do coração”. Será que alguém nesse mundo consegue imaginar um caminho mais bonito do que esse? Poder estar alinhado aos movimentos da Mãe Terra. Atentos aos ensinamentos do Pai Céu. Ter no espírito dos animais, aliados tão fortes para a vida como temos nos grandes amigos. Poder pedir a benção ao Avô Sol ao despertar de cada dia. E a benção à Avó Lua, antes de dormir, para que ela nos ajude a atravessar a escuridão da noite. Ai, eu não sei vocês, mas para mim, essas coisas me dão um treco aqui na goela de emoção. Porque são ações tão simples e tão verdadeiras. Movimentos que me fortalecem, me amparam. Me fazem sentir totalmente integrada àquilo que sempre, sempre teve sentido para mim, mas eu tinha me esquecido…

Quando eu era menina costumava dizer que a natureza era a minha igreja e que era dentro dela que eu queria viver. Porque eu rezava com as estrelas, contava segredo para as árvores. Chorava com a chuva, brincava com o vento. Conversava com joaninha, meditava com o pôr-do-sol. Aprendia sobre as cores com o arco-íris, fazia arte com pétala de flor. Acho que contemplar a natureza era a forma mais profunda que eu encontrava de estar comigo mesma, numa integração plena que só hoje eu consigo entender. Estar mergulhada na terra me fazia estar próxima à minha essência e isso me bastava. Quando a natureza encontra espaço no coração do homem acontece o fenômeno mais bonito que a existência humana pode vivenciar: a reconexão com o Grande Mistério. Não há mais sofrimento, porque entendemos no mais profundo do nosso ser, que não estamos sozinhos. Nunca estivemos.

Somos todos um. E ao me integrar com o outro, vejo nele todas as respostas que procuro. Espíritos ancestrais nos guiam. Espíritos guardiões nos protegem. Objetos sagrados nos fortalecem. Temos um caminho vermelho a percorrer enquanto estamos vivos. Que possamos honrar nossa vida e agradecer por tudo que temos.  E que por fim, no momento de atravessarmos o rio, possamos compreender com o coração, que o caminho azul será apenas uma breve passagem, já que outra incrível jornada estará para começar. Aho!

Para a minha amada roda,
Espiral Sagrada

Box Transcendental

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Todo box é uma nave espacial.

Não importa se é de blindex, se é de vidro temperado, azulejos coloridos ou fechado com cortininha de argolas. Todo box é uma possibilidade de viagem intergaláctica.

A coisa é simples. Basta entrar na cabine, ligar a torneira-turbina e iniciar a jornada rumo ao desconhecido de diversas sensações. Aquelas que serão despertadas a cada pingo que cair sobre a pele nua do viajante. Para quem gosta de banho quente a travessia pode ser ainda mais prazerosa. O calor é um poderoso catalisador de emoções. E a fumaça o condutor perfeito para uma possível transmutação genética de pensamentos. Está comprovado que o fog londrino dissolve dias cansados e desmancha as mais severas preocupações.

O primeiro contato da água quente com a pele traz uma sensação de descarrego. Chega a ser doído de tão bom. A pele se arrepia e começa a por para fora todas as toxinas que se aglomeraram em sua superfície ao longo do dia. E o corpo, tomado por essa emoção de limpeza astral, nos leva a buscar imagens que se encaixem a essa sensação de renovação: ondas do mar invadem nossa mente, rios e afluentes navegam em nossas veias, cachoeiras cachoeiram dentro de nós.

Todo box é uma nave espacial.

Uma nau despertadora de sentidos: no prazer auditivo e revigorante do barulhinho da água, no gosto da liberdade de viver o instante, na cura aromática dos xampus, no contato da gente com a gente mesmo, matando a saudade no sabonete. Ele é uma embarcação lúdica que nos permite infinitos destinos. A possibilidade real e concreta de uma verdadeira renovação biológica. Muito mais do que um simples banho, o box é o nosso passaporte para o espaço sideral que há dentro de nós.

Os bobs da discórdia

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Vivo na contramão do meu tempo. Não é apego ao antigo. É amor ao demodê.

Outro dia entrei na Tonisha e dei de cara com uma gôndola de bobs, aqueles rolinhos plásticos adoráveis, de todos os formatos, cores e tamanhos. Enlouqueci. Comprei uma penca deles e fui para casa sonhando com a minha cabeleira cacheada.

Nunca houve um movimento tão brutal nos salões de beleza para se alisar o cabelo. Queria muito entender o porquê. Tá. Eu sei o que a mulherada fala: que a gente nunca está satisfeita com o que tem. Tem cabelo liso? Sonha com cacho. Tem cabelo crespo? Sonha com fio reto. Eu até já fiz uma escova de chocolate. Mas é porque já tinha pintado meu cabelo de três tonalidades diferentes naquele ano (insatisfeita, eu?) e a escova inteligente explica muito bem para o seu fio de cabelo o que ele precisa fazer… para ficar bonito.

Mas é impressionante o movimento chapinha que se vê nas ruas hoje em dia. Tudo tão igual. Tão enlatado. É nessas horas que eu percebo como não sou a mulher moderna e contemporânea que gostaria de ser.

Eu não sou in, gente. Gosto de torradeira, vestido de bolinha, ouvir Dolores Duran. Meu ouvido não entende o funk, nem o rebolation, muito menos a dança da motinho. Não tive idade para tomar um chopp com Vinícius mas desmaio quando ouço ele cantar Samba do Grande Amor. Acho o cafona muito digno, já tive um brechó e não é a toa que eu olho para os carros na rua hoje em dia e simplesmente não consigo discernir a marca de nenhum deles. Para mim, são todos iguais. Sou do tempo do Alfa Romeu, do Chevette e do Monza. Não freqüentei drive-in mas já namorei numa Caravan Comodoro e achei que estava numa nave espacial para a Lua.

Antigamente as mulheres eram mais femininas. E curtiam muito suas próprias curvas. Hoje tem essa alucinação de malhação. Competição de quem tem o melhor corpão. O Brasil é um dos países campeões de cirurgia plástica no mundo! Por que? O que aconteceu que a gente se perdeu do feminino básico e perfumado das nossas belezas próprias?

Mesmo que eu não tenha nascido com os cachos que eu sonhei… é saudável querer ficar bonita. Só acho estranho querer ficar igual ao modelo que se estabeleceu do belo. Tudo é tão relativo.

Eu ainda quero sonhar com um tempo que a gente pode viver o tempo que quiser. E sonhar em não ser classificada de retrô só porque acho charmoso usar cílio postiço. Que troço chato é esse de todo mundo querer ficar codificando a gente.

Amanhã vou lavar meus cabelos e encher minha cabeça de bobs. Vocês vão ver. Em tempos de chapinha, eles vão acabar se tornando meu maior símbolo de rebeldia. Supimpa!

Clara e as cores

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Tudo começou quando dia desses eu entrei numa livraria.

Não posso ver uma livraria que uma força estranha me puxa para dentro. É sempre assim. E quando o lugar tem uma seção de papelaria então, é fatal. Não sei o que me atrai mais: se são os livros ou os papéis, as canetas ou os afins. Fui entrando sem pensar quando de repente vejo uma prateleira de produtos da Faber Castel. Ah… aquilo parecia um retorno ao jardim de infância. Tinha de tudo. Tintas, lápis de cor, giz de cera, massinha de modelar, hidrocores. Que delícia! Que vontade de sair por aí colorindo o mundo.

Foi quando de repente eu dei de cara com os potinhos de anilina. Vermelho, azul, amarelo, verde. Na mesma hora me deu a idéia de fazer um banho com espuma colorida para Clara. Imaginei a pequena mergulhada num arco-íris e não resisti. Passei a mão numa cesta e sai escolhendo a dedo cada cor para pintar a cena.

Chegando em casa, anunciei a aventura com pompa e circunstância. Nem bem deixei as bolsas, percebi Clara ao meu lado, já pelada, prontíssima para entrar no chuveiro. Que ótima estratégia – pensei – preciso de mais idéias como essa para o esquema do banho. Mas na verdade, acho que nem eu nem ela podíamos imaginar o que nos aguardava.

Catei todos os baldes e bacias que vi pela casa e entramos no box. Liguei a água, coloquei um pouco de xampu em cada um dos potes e deixei o jato bater na água com força para fazer a espuma. Aos poucos, fui abrindo os potinhos de anilina e derramando um bocadinho em cada um dos montinhos de nuvem branca. Mas a mágica foi acontecendo através dela, que tinha nas mãos como uma bruxa, uma enorme colher de pau para mexer e remexer em seu caldeirão mágico de poções extraordinárias. Conforme a alquimia das cores foi tomando forma, ela foi sendo tomada por uma emoção indescritível. Era lindo de ver. Ela dava gritinhos a cada cor que se revelava. Pulava. Gritava de novo. Olhava para mim estupefata. Estava em estado de graça. Não acreditava no que via. Nem eu.

Saí do chuveiro desesperada atrás da máquina fotográfica. Como é que eu não fui pensar nisso antes? Não podia perder aquela cena… aquela menina-fada de varinha de condão nas mãos, ao lado de mil potes coloridos!

Aos poucos, Clara largou a colher e começou a pintar os azulejos com as mãos. Os cabelos. A pele. E foi ficando multicolorida. Aquela cena transbordava poesia. Como podem as cores ter esse efeito tão mágico?

Aguardando à hora do final apocalíptico, finalmente derrubamos juntas todos os baldes coloridos. Com a predominância do azul, sem querer, acabamos transformando o box num imenso e agitado oceano. Cheio de ondas, marolas e espuma. Bom, isso foi o que eu vi. Para ela, que estava literalmente mergulhada na água azul, o lugar era outro.

Ela gritava sem parar, como se tivesse descoberto o sentido de tudo: “Mamãe, mamãe, eu tô nadando no céu! Eu tô nadando no céu!” Aquele box nunca mais foi o mesmo. Para nós duas.

As divinas azeitonas

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Eu só tenho três azeitonas para comer. Apenas três. Elas e uma taça de vinho.

E é nelas que está contida toda a minha inspiração para falar sobre um assunto muito sério para mim: a magnitude das azeitonas. Tenho um amigo que diz que sou muito exagerada no meu uso de adjetivos. Eu concordo. Mas como é que eu vou conseguir me controlar se o que eu quero esta noite é falar sobre azeitona?

Essa tal de Wikipédia revoluciona minha vida. Fui pesquisar sobre as azeitonas e levei um susto quando descobri que as pretas são as verdes envelhecidas. Questão de metamorfose. Gente, eu não sabia disso! Será que todo mundo sabe? Enfim, prefiro senti-las como o vinho… quanto mais amadurecidas, melhor. Sim, porque sempre tive predileção escancarada pelas pretas. As verdes são incríveis, principalmente aquelas gordas. Mas as pretas, ah… as pretas. Elas tem uma maturação no sabor, uma textura carnuda, um paladar visual. Elas me levam diretamente ao Mediterrâneo, ao seu calor e sol e casas brancas com janelas azuis. Dizem as más línguas que é super hiper mega calórico. Imagina só se alguém me vê com um pão entupido de grossas fatias de azeitona na mão? Vão pensar que enlouqueci. Quem liga para caloria quando se é feliz?

Essa coisa de gulodice misturada com avareza é coisa séria. Pecado brabo. Só pode ser. Uma vez eu quase morri por causa de uma azeitona verde. Eu estava dando uma festa de aniversário em casa e obviamente, ganhei de presente um pote de azeitonas verdes argentinas, daquelas enormes. Coloquei numa cumbuca algumas para servir junto dos petiscos. Comi uma. Como duas. Na oitava achei que devia parar. Eu queria prolongar aquele prazer. E no mais, estavam todos avançando na minha azeitona. Pois bem. Coloquei a cumbuca na geladeira e voltei para sala. Alguém pediu uma cerveja e eu fui buscar. Abri a geladeira, peguei a latinha e assim que eu ia fechando a porta, vi aquelas bolotas verdes indecentes olhando para mim. Ah, pensei, vou comer só mais uma… peguei a safada, joguei na boca e ela foi direto para a glote. Nossa Senhora. Aquela coisa se instalou na minha goela, não descia, nem voltava. Fiz de tudo. Me enforquei, tentei virar de cabeça para baixo. Foram minutos de uma angústia profunda. Achei mesmo que ia morrer. Que patético, pensei, morrer entalada por uma azeitona. Quando finalmente consegui fazer a bicha descer garganta abaixo, já tinha até me despedido da vida.

As azeitonas habitam minha alma num andar muito alto, quase cobertura. Lá estão também o milho verde, a canela, o queijo gorgonzola. Mas isso é assunto para outra prosa. Hoje fico aqui com esse último pedaçinho, da última azeitona que me restou. Isso é que é ser feliz com pouco. Ou com nada. Taí! A azeitona é o Tao do Sabor. Tudo e nada numa só bolota. Maravilha.

Eu era madame e não sabia

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Marly foi embora e com ela todo um tempo de monarquia doméstica onde vivi os últimos quinze anos da minha vida.

Não foi ela que quis ir embora. Fui eu que a demiti, por razões logístico-financeiras muito complicadas para serem explicadas aqui. Mas só hoje, um mês depois de sua partida, é que eu me dou conta da dimensão dramática do que isso significou para a minha vida.

Dos tempos áureos de Rainha do Lar hoje só me restam alguns trapinhos velhos, muitas tupperware sem tampa, algumas vassouras esgarçadas e a certeza de ter sido somente uma Maria Antonieta para o meu pobre reino nesses últimos anos. Sinceramente, eu não sabia de nada do que se passava por aqui. Abastecia a dispensa de brioches e achava que isso já era o suficiente.

Empregada doméstica é uma faca de dois legumes. Ela cuida de tudo para nós, é uma maravilha. Toma posse das funções maçantes do dia-a-dia, limpa-lava-e-passa, te alimenta, dirige sua vida e te enche de ilusões do quanto você é livre. Mas a coisa não é bem assim. O preço que se paga por essa liberdade é bem maior do que um salário mínimo e taxas. Para ter uma auxiliar administrativa cuidando de tudo que é nosso, a gente paga o preço incalculável de distanciar-se de tudo aquilo que nos restaura e fortalece, isto é, o nosso próprio lar.

Lar. Uma palavra tão pequena e tão querida. Palavra quentinha, macia e cheirosa. Que traz em si – imagine – todo o conceito de conforto existencial. Mas se a nossa casa é o nosso abrigo mais precioso, não seria mais correto cuidarmos nós mesmos dela? Desde que Marly foi embora fui obrigada a voltar a olhar para tudo do meu cotidiano com um novo enfoque. Olhar – não só no sentido de enxergar – mas num sentido de examinar tudo ao meu redor com mais profundidade, como se pela primeira vez em muitos anos, eu pudesse voltar a observar o espaço onde habito. Sabe quando a gente passa muito tempo viajando e quando volta, tudo parece diferente? Pois é. Essa foi a sensação que eu tive na primeira segunda-feira que me vi cara a cara com a minha casa super ultra mega bagunçada do fim de semana.

Tenho quase certeza de que segunda-feira é um dia complicado para todo mundo. Quando tudo precisa voltar para o lugar e a nossa alma ainda está cochilando a soneca de domingo. A gente precisa pensar no cardápio da semana, fazer supermercado, trocar a roupa de cama, as toalhas, fazer faxina, colocar a casa em ordem. Nossa, as minhas segundas-feiras sempre foram dias muito difíceis para mim. E a coisa toda agora piorou muito já que não tenho mais a minha salvadora virando a chave da porta bem cedinho de manhã, para tomar as rédeas do caos que eu mesma criei.

Eu não tenho mais essa salvação. Não tenho mais Marly. Agora sou só eu. Eu e Deus. E Agepê no som, porque se é para fazer faxina que seja ouvindo Agepê. Descobri que varrer a casa cantando “Deixa eu te amar” dói menos. Bem menos. E assim eu tenho passado o meu tempo: batendo cabeça, tentando me entender nas funções, cantando para não chorar. Fazendo listas e mais listas do que preciso fazer. Tentando priorizar o essencial, mas perdendo um tempo enorme limpando dispensa, arrumando armário, jogando muita coisa fora. Numa boa, empregada tem uma mania muito estranha de guardar coisinhas. Paninhos, potinhos, tampinhas. Ferrinho de amarrar pão. Pedacinho de Bombril. Eu odeio Bombril! No dia que Marly foi embora joguei fora todas as bolinhas de Bombril enferrujadas que ela guardava. Troço nojento.

E agora – agora assim muito recentemente – eu tenho percebido uma mágica acontecer. Depois de ter mexido na casa toda, deixado tudo do meu jeito, com a minha energia, passei a fazer as coisas com um cuidado diferente. Tipo: quando vou passar roupa, passo roupa fazendo disso um momento único. Nada de mau humor ou má vontade. Se é para passar roupa, que seja com tempo e calma. Porque assim aproveito um pensamento amarrotado e passo também. Cozinhar? Hora de mergulhar nas cores dos legumes e no perfume dos temperinhos. É para picar cebola? Então faço isso com gosto. Viajo na cor da cebola, no jeito da cebola, nessa coisa dela me fazer chorar. E aproveito pra chorar aquele choro que tava escondido em mim e eu nem sabia. Lavar louça? Essa parte é difícil, porque eu não gosto muito de lavar louça. Mas to reaprendendo. Lavar louça é um pretexto danado de bom para lavar saudade. Ou um sentimento ruim. O detergente tem feito milagre nas minhas agonias. É isso. Descobri que qualquer ação feita com devoção é uma espécie de meditação. E se eu sempre precisei desse momento de pausa para me equilibrar e nunca encontrei por falta de tempo, agora foi o tempo que encontrou um jeito de cuidar de mim. Sem cobrança, sem aflição. Só com sabão, vassoura, esponja e esfregão.

Marly foi embora. E dela agora só me resta a saudade de duas coisas insubstituíveis: o abraço que ela me dava quando eu tava triste e o seu incrível pudim de leite. O mais macio e perfeito pudim de todos os tempos.

Pão querido de cada dia

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Tem coisas que me ajudam a viver. Padaria é uma delas.

Tinha passado o dia todo de pé. Andando quilômetros da cozinha para sala, da sala para o quarto, do quarto para a cozinha. Estava exausta. Meio vesga. Mudança faz a gente ficar meio zureta. Me dei conta disso quando no meio da tarde, percebi que tinha parado tudo para fazer uma faxina na casa da Barbie. Isso porque já tinha vestido e penteado umas tantas bonecas antes. Me sensibilizaram as coitadas, nuas e descabeladas, espalhadas pela casa.

No final do dia resolvi ir à padaria. Precisava sair um pouco. Ver a luz do dia que já estava de saída, respirar um pouco de gás carbônico da Miguel de Frias, sei lá. Ver gente.

Entrei na padaria e dei aquela cafungada funda. Só faço isso quando tenho 100% de certeza de que o odor é confiável. Nas padarias, sempre é. Padaria tem cheiro de colo de mãe. Pãozinho misturado com bolo de fubá. Tem o burburinho dos apressados que estão voltando do trabalho, loucos para chegarem em casa para se livrar de seus sapatos apertados. Tem a risadinha das crianças, hipnotizadas pelos doces e picolés. Tem os solteiros na fila do frango. Tem as vovós tomando sopinha e vendo novela na televisão sem som.

Fui para fila do pão meio anestesiada. Uma dor no corpo. A cabeça bagunçada. A mente passando e repassando a lista de tudo que faltava empacotar. A moça perguntou quantos eu ia querer. Calculei rapidamente o lanche, a fome da madrugada e o café da manhã.

– Quero seis, por favor.

Quando ela me devolveu o pão depois de pesar, percebi que a fornada tinha acabado de chegar. Eles estavam quentinhos! Sem pensar, abracei o pacote e ali mesmo fiquei de olhos fechados, atracada com aquele calor cheiroso e revigorante, sentindo sem querer, uma profunda felicidade. Parecia que aquele instante estava me devolvendo todo o equilíbrio que eu tinha perdido, toda a energia que tinha me esvaziado encher tantas caixas. Encostei os olhos no pacote, depois o rosto todo. Respirei fundo e só então percebi o quanto me sentia só.

Abri os olhos e dei de cara com a mocinha me olhando torto, meio sem graça pela cena de tão explícita paixão. Nem liguei. Fui para a fila do caixa, pagar satisfeita por aquele tesouro incalculável que eu tinha acabado de adquirir.

Tem coisas que me ajudam a viver. Amar a vida é uma delas.

Milho verde

milho

O paladar é o sentido mais apreciado pelo meu coração, porque ele é de todos o mais generoso dos sentidos. Ao unir suas forças ao olfato, por exemplo, que desperta o aroma mágico dos alimentos, ele se potencializa ao seu grau máximo de prazer. Assim como também através da visão, suas características mais secretas podem se revelar pela simples aparência do objeto desejado. Mas não é só por isso que ele é genial. Mas por ser a porta de entrada para um mundo fascinante de sabores. Ele é o início de incríveis jornadas, um presente dos Deuses ao homem, um tesouro que nunca deixa de ser redescoberto a cada alimento experimentado.

Quando pequena pensei em seguir a carreira de nutricionista. Adorava pensar na intimidade que podia ter com a comida ao conhecê-la tão profundamente. Depois, os anos passaram e o teatro foi mais forte como vocação. Mas hoje penso que se, naquela época, já existisse a profissão de Chef Gourmet tão divulgada como é hoje, talvez ela tivesse superado minha paixão pelos palcos da vida. E eu seria uma feliz e contente doutora em gastronomia.

“Não há amor mais sincero do que o amor à comida” já dizia Bernard Shaw. Concordo profundamente com ele. Quem ama comer tem na personalidade uma característica passional com os alimentos. Eu sou assim. Ouso dizer que amo comer tanto que amo viver e isso se deve ao meu generoso e querido paladar.

Minha avó há alguns anos atrás perdeu o olfato e o paladar e só conseguia distinguir o salgado do doce. Sentia uma enorme compaixão por ela. Como, meu Deus, viver sem o universo de sabores que nos é oferecido de bandeja? Menus simples ou especiais, receitas afrodisíacas, pratos internacionais. Frutas, molhos, especiarias. Vinhos, pães, queijos! Doces, bolos, rocamboles. Dizem que os amantes do boa comida sentem mais intensamente os sabores que os outros mortais e que tem maior concentração de papilas gustativas na língua. Eu devo ser assim, porque não é possível tanto gemido a cada garfada.

Minha relação com o paladar é quase sexual. Digo isso porque sei o que sinto quando me deparo com uma barraquinha de milho verde no meio da rua. Quando percebo no ar o aroma de milho cozido, uma força cósmica me atrai ao carrinho prateado. Um arrepio me sobe o corpo e eu sou levada diretamente ao panelão de água fumegante. Em transe, escolho a espiga mais suculenta. Observo atentamente o vendedor envolvê-la carinhosamente na água salgada e a agarro com toda a força quando ela finalmente me chega às mãos. Minutos inesgotáveis espero até que ela esfrie para dar a primeira mordida. E num ritual quase vampiresco, cravo os dentes nos inocentes grãos macios e chupo o caldinho salgado até encher a boca. Mordo e chupo. Mordo e chupo. E assim fico, numa seqüência infinita de suspiros e gemidos até acabar com o último grão amarelo. Nossa. É quase um orgasmo. Ou, como explica com sabedoria meu companheiro Houaiss, uma excitação incontrolável do espírito!

Simplesmente divino!