Hora de dormir. Quarto escurinho, beijos de boa noite, chamego.
– Mãe, aqui entre nós duas, me explica uma coisa? Por que tem gente que chama o fiófis de cú?
Tive que me segurar para não soltar uma gargalhada e acordar Catarina.
– Ué, deve ser porque é uma palavra pequenininha e feinha, exatamente como ele é.
Dessa vez foi ela que gargalhou. Daquelas gargalhadas que ela dá e a veia do pescoço pula de alegria.
– Eu sei que cú é palavrão, mãe… mas tem algum nome bonito para ele?
– Hum… tem. Ânus.
– Ânus é feio, mãe! Cú é mais simpático.
– Eu sei minha filha. Mas cú é palavrão. A gente não deve falar. É uma tremenda falta de educação.
– Cú não parece palavrão. Parece palavrinha…
Fiquei sem fala. Ela estava coberta de razão. Foi dali que ela começou sua pesquisa linguística antropológica.
– Sei… e qual o nome feio de pepeca?
– Vagina.
– Ah mãe, fala sério. Vagina é o nome técnico. Eu quero saber o palavrão mais horripilante…
Pensei um pouco. Não era justo mentir para ela naquela altura do campeonato. Ela tinha o direito de saber.
– Tá. Buceta.
– Buceta? Mas buceta é bonitinho…
– Clara, pelo amor de Deus minha filha, isso é um palavrão de quinta, não vai sair por aí falando isso e dizendo que fui eu que te ensinei que vão me chamar de louca.
– E se eu chamar minha pepeca só de Ceta, tudo bem?
– Não, não está nada bem. Todo mundo vai saber que é diminutivo de buceta.
– Hum. Então qual é o nome mais lindo para buceta?
– Pepeca filha. Pepeca é lindo.
– E para peru?
– Pinto.
– E pau?
– Pau nem pensar. É muito vulgar.
– Mas por que a gente pode chamar o peru pelo nome do bicho, mas não pode chamar pelo nome da madeira?
– Clara, o mundo das palavras é um pouco complicado.
– Tudo bem mãe. Mas o que é grelo?
– Boa noite, Clara!
Gargalhei !!!