A Revelação da Tríade

triade

Sensibilidade, espiritualidade ou imaginação?

Há uns dias atrás tive um insight incrível. Um estalo desses que a gente vive poucas vezes, mas quando vive, fica com a impressão de que entendeu quase tudo sobre a vida. A iluminação aconteceu no Mergulhão, aquele lugar sinistro da Praça XV.

Eu saí das barcas e muito a contra gosto desci as escadarias para pegar um ônibus para Tijuca. Geralmente prefiro caminhar até o metrô, mas nesse dia estava muito atrasada e resolvi enfrentar a fedentina. Foi descer as escadas para começar a sentir uma pressão no peito. Respirei fundo. De concreto ali havia a penumbra do lugar, o gás carbônico dos ônibus apressados e o semblante infeliz dos que esperavam sua condução. Mas eu… eu comecei a sentir um monte de coisas.

Primeiro foi o enjoo. Aquele bafo quente dos carros quando se mistura ao cheiro de xixi e cocô de gente é um odor nauseabundo. Mas para o meu espanto, ninguém estava com cara de quem ia vomitar, só eu. Tudo bem. Sigo em frente. Do enjoo vem uma tontura. Uma opressão no peito que eu não sei direito de onde vem. Não consigo entender se é uma sensação, ou um pressentimento. Mas é um peso. Eu não ouço vozes, nem vejo nada demais, mas tenho uma certeza estranha de que outros tipos de seres perambulam por ali. E por último – certamente já sob efeito alucinógeno de todos os meus sentidos invadidos – começo a imaginar tudo que já deve ter acontecido naquele lugar: cenas de violência, crime, tensão, medo… afinal ninguém imagina uma cena de amor num subterrâneo sombrio de filme de terror.

Enfim, tomada por essa mistura esdrúxula de sentimentos, me veio a súbita pergunta: será que eu tava passando mal por uma extrema sensibilidade, por uma espiritualidade não desenvolvida (e por isso vítima de possíveis obsessores presentes) ou por um afogamento de ideias que toda aquela situação me fez criar na cabeça em menos de cinco minutos?

Eureca! Foi nesse instante que milhares de fichas começaram a cair. Tipo Las Vegas.

Sou a construção de um ser baseado na conjuntura de uma santíssima trindade: sensibilidade, espiritualidade e imaginação. A vida me invade e eu a filtro nessa lente onde se misturam impressões sensitivas, espirituais e imagéticas do mundo. Sou mega sensível,  tenho antenas que captam coisas do outro mundo e para completar, uma cultura cinematográfica de arrepiar. Pronto, fechou. Não preciso de mais nada para chegar a uma locação propícia e pirar o cabeção.

Essas confirmações são mágicas porque nos fazem compreender um pouco mais sobre nós mesmos. Esse tal de insight é uma revelação mística. Um presentão do inconsciente para gente entender um pouco melhor sobre a gente mesmo. Poxa, ajuda muito saber que sou simplesmente um conjunto exagerado de absorção do mundo. Um alívio para quem sempre se julgou meio trelelé. Não é fácil não gente, ser assim… super suscetível ao mundo sutil e ter criatividade saindo pelo ladrão.

O fofo do Caetano já dizia que “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Hoje eu entendi que não preciso mais sentir tanta dor por ser essa coisa esquisita que eu sou. Só preciso aceitar “o sentir”. E rezar. E escrever. Afinal, a tríade pode se revelar nos lugares e nos momentos mais esquisitos do dia. Nunca se sabe.

O que achou?