Amor e verdade

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Para Marcia Cypriano

Eu sempre achei essa coisa de “lema de vida” uma coisa meio cafona, meio lugar comum, meio comercial da Nike. Talvez por preconceito. Talvez por temer ficar na superfície das coisas, como se uma frase de motivação não pudesse nunca resumir um sentido de vida para mim. Uma atitude bem pedante se a gente for pensar, mas era assim que eu sentia.

Aí um dia eu conheci um cara que revolucionou a minha forma de olhar o mundo. Que me fez despertar de um monte de coisa esquecida em mim e me fez reavaliar metade das coisas que eu achava que pensava do mundo. Sabe essas pessoas que a gente conhece e acabam virando um divisor de águas na nossa vida? Pois é. Isso foi o que fez Jonatan Agra quando chegou na minha vida. Uma bagunça incrível que eu nunca vou esquecer.

Eu não sei bem como a coisa começou. Eu sei que duas palavras surgiram nas nossas bocas e passaram a ser repetidas como um mantra. Quando a gente via, lá vinham elas de novo, trazendo tudo que a gente queria dizer. Foi então que a gente entendeu que elas tinham chegado para ficar. E que de alguma forma, tinham virado um lema de vida. A gente passou a ter orgulho delas. E orgulho de ter um lema. Para vocês verem como a vida às vezes dá um safanão na nossa cara. Mas tudo bem.

Amor e verdade.

De repente, tudo no meu cotidiano parecia perfeitamente espelhado no sentido mais profundo dessas duas palavras. E elas passaram a ser um pilar. Uma estrutura básica de conduta e força para a minha vida. Uma coisa linda. Poética. Viva. Real.

Mas… A vida é como ela é.  E não é só é uma caixinha de surpresas. Mas também um baú de concreto que de vez em quando cai sobre as nossas cabeças. Mesmo que a gente ache que já passou por tudo, não. Não passou.

Então, na semana passada, um golpe do destino me fez cair do cavalo e me fez regurgitar meu lema de vida só para me mostrar que as coisas não são tão simples como eu gostaria que fossem e que para se ter um lema de vida é preciso muito mais do que proferir duas palavras. E preciso entender que ou elas caminham juntas, ou podem simplesmente se aniquilar.

A vivência foi simples. Eu coloquei o amor na frente da verdade, contei uma mentira e vi todo o meu mundo despencar. Foi patético. E muito doloroso.  Porque acabei ferindo outras pessoas, mesmo sem ter tido a intenção.

Mentira é uma coisa muito esquisita. Porque ela é tolerada pela sociedade desde que o mundo é mundo e muita gente acabou se acostumando com ela. As pessoas falam mentiras, os políticos falam mentiras, as propagandas falam mentiras. Ela está entranhada no nosso dia-a-dia. E a pergunta que me faço é: por que é tão difícil falar a verdade?

Prestemos atenção num dia de 24 horas: quantas pessoas no mundo conseguem passar um dia inteiro sem contar uma mentirinha sequer? Para alguém ou para si mesmo?

Aquele ditado que mentira tem perna curta é irritantemente verdadeiro. Mas porque será que ela não se sustenta? Porque ela é feita de pó. De boato. De embromação. De ilusão. No dia que fui pega na mentira, senti uma dor tão forte no peito que mal podia respirar. Deve ter sido o efeito da adrenalina. Ou da vergonha. Voltei para casa com vontade de fugir para longe e nunca mais voltar. Mas como é da minha natureza, ao invés de fugir eu resolvi que queria ir fundo na experiência e entender porque, naquela altura da vida, eu ainda conseguia cair numa armadilha dessas. E cheguei à conclusão de que a verdade é muito mais difícil de ser aplicada do que o amor.

O amor, para quem foi amado, é um sentimento fácil de ser multiplicado. Porque ele se espalha e penetra com facilidade nos menores cantinhos. Em muitas ações, grandes ou pequenas, podemos disseminar o amor.  Até mesmo para aqueles que preferem o substantivo ao verbo. Mas a verdade…

A verdade já são outros quinhentos. Porque ela carrega em si um peso daquilo que não tem filtro, não tem máscara, não tem saída. A verdade é crua. E absoluta. E por isso pesa. Porque o ser humano é contraditório e egoísta. E por mais que a gente queira ser honesto sempre, muitas vezes acaba simplesmente não conseguindo falar a verdade, porque acha que ninguém vai entender o que você não conseguiu explicar.

Mas é uma escolha.

Assim como muitas que a gente precisa fazer todos os dias.

Com a verdade não há sobressaltos, nem medo, nem adrenalina, nem arrependimento. Com a verdade só há preto no branco. Ou uma paradoxal transparência.

Amor e verdade.

Eu rogo para que vocês nunca mais se separem, e que ao caminharem juntas, possam me ensinar que muito mais do que um lema para a minha vida, vocês possam ser aquilo que eu vou poder deixar de herança para as minhas filhas. Um legado de paz a um mundo que cada vez parece mais perdido em suas contradições. E por isso, termino meu texto aqui parodiando Frida Kahlo, com toda a admiração que tenho por ela:

“Onde não puderes amar e falar a verdade, não te demores”.

3 pensou em “Amor e verdade

  1. Obrigada minha fada amada pelo sagrado cafezinho da tarde… acabo de deleitar-me no chazinho de cidreira com laranja na varanda da casinha de sapê. 😘

  2. belíssimo e importante texto, minha querida; gratidão por todo o afeto que trocamos juntos e por termos vivido toda a potência desse encontro. viver em amor e verdade é, de fato, árduo. a verdade é sempre curativa, mas dizê-la, sê-la, pode ser muito doloroso, para si ou para os outros. acredito, porém, ser o único caminho justo: a mentira é um falso conforto, uma falsa ternura. sigamos na nossa bandeira !

  3. Adoro ler a tua verdade, querida Tati! Puro amor!

    Há alguns anos, estava preocupada como iria justificar a minha ausência a um evento com amigos. Fiquei pensando em possíveis desculpas. Foi quando meu marido me ensinou, que o melhor era falar a verdade, mesmo que fosse “não estou com vontade de sair de casa”. E assim fiz e passei a fazer.

O que achou?