O que é que acontece quando a gente no meio do dia, no meio de um dia comum, encontra uma coisa sem querer que fala de um lugar muito, muito profundo da sua alma?
Fica em choque.
Foi isso que aconteceu comigo na semana passada, quando buscando uma música no Youtube, eu me deparei com um disco de um pianista italiano chamado Ludovico Einaudi.
Eu estava me preparando para escrever.
Quando “Seven Days Walking” apareceu como sugestão, eu reconheci o nome dele, de um presente que tinha ganhado há muito tempo do meu amigo querido – Jo, que só me dá presentes extraordinários. Presentes para alma. E eu já tinha amado o piano lindo que ele tocava. Mas naquele dia, quando eu dei play na primeira música do disco, o tempo parou.
Eu não sei se todo mundo sente assim, mas eu sinto que cada alma tem uma trilha sonora. Uma música que representa o que a gente é, no mais íntimo do nosso ser. Uma música que toca e fala por você. Por seus sentimentos, por seus silêncios, por sua voz que nem sempre tem palavra para descrever o que passa a sua existência. Uma música que te representa no universo. Aquela que pode ser tocada quando você desencarnar e finalmente encontra o Criador.
Eu cliquei na música “Low Mist Var.1 (Day 1)” eu parei de respirar.
Fechei os olhos e senti uma emoção vindo de lá do centro do meu ser. Não sei dizer se a coisa vinha do peito, do coração, do imaginário que é imaginar a vastidão do que eu sou por dentro. Sei que ela vinha de um lugar muito fundo, muito íntimo. E conforme a música foi tocando, meus olhos foram transbordando a emoção de me reconhecer em algo que estava do lado de fora. Como se uma sinapse tivesse sido feita. Igual aquele rabinho mágico cheio de fiozinhos que as criaturas azuis de “Avatar” conectavam com a Árvore da Vida.
Olha, é muito difícil descrever o que senti naquele dia. Só sei que fui tomada por algo tão forte que chorei por algum tempo agradecendo para alguém ou alguma coisa que eu nem sabia quem era.
Experiências sensoriais assim, são para mim, a confirmação do divino em nós.
Algo que vivemos e ninguém mais pode mensurar a magnitude da vivência, a não ser você mesmo.
Fui pesquisar, claro, sobre essa obra de Einaudi e qual não foi a minha emoção quando descobri que em janeiro de 2018 ele estava recolhido nos Alpes (olha isso) e quase todos os dias ia caminhar, sempre seguindo mais ou menos a mesma trilha. Num dia, em meio a uma forte nevasca, “seus pensamentos foram vagando livres tempestade adentro, onde todas as formas, despidas pelo frio, perdiam seus contornos e cores”, e isso permitiu que ele construísse um “labirinto musical” presente nas músicas.
Uau…
“Seven Days Walking” é um conjunto de sete álbuns que foram lançados num intervalo de sete meses a começar pelo primeiro volume, “Day One”. Em toda a obra, Ludovico Einaudi está ao piano, Frederico Mecozzi no violino e viola e Redi Hasa no violoncelo.
Se alguém desejar passar por essa experiência sensorial extraordinária, é só entrar nesse link:
Para fechar esse texto só queria dizer que o mar, as ondas que quebram na areia, o vento, as folhas que dançam com o vento e tudo que habita a natureza também fazem parte da trilha sonora da minha alma. E que um dia, eu hei de encontrar uma forma de caminhar pelos labirintos da minha mente e escrever o livro que minha alma tanto anseia.
Quem sabe uns dias recolhida nos Alpes pode ajudar. Não custa sonhar. : )
Aqui mais um link para o trailer que explica um pouco mais sobre o projeto “Seven Days Walking” e seu processo criativo. Emocionante e belíssimo. Aproveitem!
Que maravilha de texto minha irmã! Muito orgulho!!!
Eu gostaria muitíssimo de que cada uma das mulheres que chegou às minhas Rodas de Lobas pudesse viver isso que você descreve para poder entender o que é o “numinoso” a que Clarissa Pinkola Estés se refere inúmeras vezes em seu “Mulheres que Correm com os Lobos”. È verdadeiramente uma epifania o que nos acomete nestes momentos! E só a experiência do transcental, do indescritível, do instante em que o divino em nós se manifesta, é que podemos verdadeiramente ser tudo o que nosso Ser é!
Meu voto é que esse magnifico texto seu, Tati, possa abrir essa percepção que todos nós temos disponível e viver esses momentos numinosos que nos fazem divinos e parte do divino em tudo! Que a beleza possa se revelar em todos os corações!
A capacidade de traduzir o sentir é um dom…que aos poucos se configura em habilidade!
Habilidade de tocar o outro…com sussurros escritos!
Criatura abençoada, bafejada pela sorte, encontrou e mergulhou na trilha sonora de sua alma… você sabe agora onde se refugiar, onde se renovar, para o enfrentamento das agruras dessa jornada que te coube desta vez. Que sua alma baile leve e livre, ao som de sua trilha, contornando os sustos e dores deste momento…
JohnJohn, meu querido! Que palavras lindas você teceu para mim! Agradeço imensamente sua dedicação, suas palavras me levam a refletir muito… Te amo tanto! Obrigada pela presença amorosa e maravilhosa em minha vida!
Catita, minha irmã de jornada, que alegria te sentir aqui… que possamos sentir a vida sempre juntas! Te amo!
Nenela! Faz ideia da minha alegria de te ler aqui? Te amo, irmã!
Mãe querida, hoje, olhando para trajetória da minha vida, vejo que parte dessa forma transcendental de olhar o mundo, foi você que me ensinou. Te agradeço por toda a criação e arte que plantou em mim. Te amo, Mamosa!