De todas as memórias afetivas que eu guardo no meu coração, talvez uma das mais preciosas e celestiais seja a lembrança do apito do trem que passava nas madrugadas em Joinville.
(clique aqui para ouvir o que eu ouvia)
Todas as noites, ele passava a mesma hora, no mesmo silêncio da cidade adormecida. E eu esperava por ele. Não sei porquê. Mas algo em mim fazia sentido quando aquele trem passava. Eu morava num bairro distante, numa parte da cidade que estava no extremo oposto à estação que o trem passava. Mas mesmo assim eu conseguia ouvi-lo com uma impressionante nitidez. Todas as noites. Eu repetia a mesma cena. Saia da cama em silêncio e ia até a varanda, de camisola, esperar por ele. Perdi a conta de quantas estrelas contei e quantos desejos desejei em estrelas cadentes ao esperar por aquele trem.
A vida é estranha e maravilhosa. E nela habitam tantos sentimentos, tantas experiências e tantas impressões que às vezes, fica difícil de explicar. Deve ser por isso que inventaram a poesia. Para explicar as coisas inexplicáveis. E deve ser por isso que eu vejo poesia em tudo. Porque há coisas demais no mundo que são indescritíveis e inenarráveis.
Sim. Eu vejo poesia em quase tudo. Mas nem sempre ela se traduz em palavra. A poesia as vezes pode ser simplesmente um estado de ser. Uma forma de ver. Eu via tanta poesia naquele apito de trem. Porque via pessoas partindo. Pessoas chegando. Via um imenso fantasma de ferro atravessando o mundo como quem busca o próprio destino. Havia algo mágico naquele som. E eu não precisava explicar. Só precisava me permitir sentir o que sentia.
Nunca mais esqueci aquela experiência.
Eu tenho uma coisa com o som das coisas. Eu fico mexida quando um sino toca. Quando ouço uma onda se quebrar na beira da praia. Quando o vento chia forte, ou quando o próprio vento faz barulhinho nas folhas das árvores. Eu fico mexida com ouço trovoada, daquelas fortes que dão medo. E desmaio de amor com o som da chuva. Me emocionam os barulhos na natureza. Todos eles. Tipo sapo coaxando. Grilo grilando. Galo cocorocando. Mas também gosto do som de gente. Gente assoviando. Gente cantarolando. Gente gargalhando.
Se eu pudesse juntar minhas memórias afetivas num só lugar, eu gostaria que fosse numa trilha sonora, onde tudo aquilo que ouvi e senti do mundo pudesse se condensar num única música. Uma canção que me fizesse lembrar as melhores e mais profundas experiências que eu pude viver. Só com os sons da minha alma. Para ouvir nas estrelas o dia em que eu não estivesse mais aqui.
Que lindo seria.
Você é poesia na minha vida. Beijos sonoros.
Envolvente! Enternecedor! Edílico! Maravilhoso, Tati.
O som que veio junto é mais um presente seu.
Tudo me dá vontade de dizer TE AMO!
Gratidão querida pelos sons da sua alma cheia de poesia. Encantaram minha tarde e trouxeram paz. Bj no seu coração!
Lindo,terno,vc e uma alma linda!
Tati, amada. Sim, seria lindo. Foi lindo ler o texto ouvindo o trem. Que ideia boa! Som de trem é mesmo um esppetáculo de poesia… Eu amo sons, amo o tato das coisas (sou muito sensorial), mas sobretudo amo cheiros. Sou meio loba, ando por aí cheirando tudo… rsrs
Ah… e as memórias olfativas da infância?… Uma das mais maravilhosas é o cheiro da minha merendeira de couro (da época em que as merendeiras eram de couro…). Cheiro de biblioteca… hummm tanta memória boa. E os cheiros da natureza: cheiro da terra sob o sol, cheiro da terra sob a chuva, cheiro da terra e da grama sob os nossos pés. Cheiro de chuva… e cada chuva cheira diferente, chuva de inverno é diferente de chuva de verão. Ah… cheiro de mar… cheiro de folha, de sementes, de frutas, cheiros de flores…
Despeço-me como os baianos, sábios baianos: um beijo e um cheiro pra você! Tão bom beijo junto com cheiro!
Chorei com os teus sons, tua poesia… Nossos cheiros, minhas visoes… Subi ate o ceu, visitei as estrelas com voce… Rodopio d’alma, com cada lembrança do que ja foi vivido, e a esperança de que toda a beleza que vejo no mundo possa um dia caber em mim…
Choro também com a emoção do que me escreve, irmã… estamos juntas. Somos uma. Te amo!
E você é na minha. Quando sobe no palco! Saudade sonora!
Te amo, mãe minha. Como é bom ter você.
Sane, minha irmã querida! Bom demais te ler assim, escrevendo poesia para mim… para nós, pro mundo! Também viajei com os teus cheiros! Merendeira de couro é demais! Obrigada amiga, por me acompanhar na jornada da vida!
Beijo Anna querida. Que bom te ler aqui!
Claudinha, mulher gentil caminhante… que bom poder retribuir o que geralmente VOCÊ me traz: paz e encantamento! Beijos querida!