Eu tenho um olfato de vampira.
Sou assim desde pequena. Sinto o cheiro da chuva muito antes da chuva chover. Reconheço perfumes de amores antigos em pessoas desconhecidas nas ruas. Percebo de muito longe quando alguma coisa está queimando, ou quando tem algum legume na geladeira querendo estragar. Se tivesse desenvolvido esse dom, poderia ter me tornado uma perfumista ou uma sommelier. Não teria sido nada mal. Dizem que é um dos trabalhos mais bem pagos do mundo: “ser um nariz apurado”. Claro que esse dom tem os dois lados da moeda. A parte boa é ser feliz por reconhecer de longe um bolo assando num fim da tarde, e a parte terrível é sentar ao lado de alguém no metrô e perceber que, mesmo de boca fechada, a pessoa tem um bafo de bode.
Mas enfim.
A questão é que desde que me mudei para o bloco 13 do meu condomínio, tenho sofrido muito ao entrar e sair do prédio. Todos os dias vivo um martírio sem fim. Porque eu não sei o que acontece, mas me parece que nesse bloco estão reunidos todos os Chefs Gourmets do Bosque de Pendotiba. É sério. Eles são os reis da culinária afetiva. Não há uma só vez que eu entre no bloco e não precise parar, antes de pegar o elevador, para tentar identificar a maravilha que está sendo preparada numa daquelas cozinhas. O cheiro é tão bom, tão bom, que me dá vontade de chorar. Ou bater na casa de um dos vizinhos e dizer que esse tipo de coisa deveria ser proibida no estatuto do condomínio.
A impressão que me dá é que lá dentro estão sendo preparados verdadeiros banquetes. Que numa das cozinhas deve ter uma Babette preparando uma festa para seus convidados. São sopas apetitosas. Assados, bolos, pudins. Molhos fumegantes. Odores encharcados de temperos, ervas, azeites. Comidas feitas com amor, daquelas que só são feitas em casas felizes. Um cheiro pode falar muito sobre uma casa. Ele pode ser a condensação de um pequeno universo. O resumo de um lar. A essência de uma família. Casas cheirosas são o retrato da harmonia. Do feng shui que deu certo.
Meus vizinhos do bloco 13 devem ser pessoas incríveis. Só podem ser. Acho que qualquer dia vou tomar coragem e me convidar para jantar. Tentar trocar um prato de comida por uma poesia. Será que alguém aceita?
Ahhh. Tomara meu Deus. Tomara.
Para quem não viu esse filme, dica imperdível:
A FESTA DE BABETTE
Bom dia Flor do Dia! Adoro tudo que vc escreve , do jeitinho que vc escreve… E quase tudo que vc escreve parece que está falando tão pertinho de mim, sobre mim… Identificação total. A propósito tem uma casa aqui trocando comidinha amorosa, afetiva, saborosa, cheirosa por poesia de menina linda, fada, amada e saudosa! <3 😉
#TeAmoTi.
Aaaah a propósito: senti todos os cheiros daqui…kkkkkkkk E olha que eu tô longeeee… hehehe, olfato de vampira! 😉 Saudade … tanta… que chega a doer! SOS Férias de final de ano! Veeeeem ou eu vooooou! Decretado! kkkk 🙂
Que delicia de texto ,Tati!!!!!!!!! beijos
Marcinha, minha querida! Então fechou! Férias vamos trocar amor e comidinhas! Dessa vez a gente consegue… muita saudade também minha flor!
Cheiro de vida!!!!!!!!