Cheirinho de Deus

cafe

– Mãe, o que é olfato?

– É o sentido que faz a gente perceber os cheirinhos do mundo, filha.

– Cheirinhos do mundo, como assim?

– Ué, se alguma coisa tem cheiro, quem sente é o seu nariz através desse sentido engraçado que se chama olfato.

– Ah… eu gosto do olfato do bolo da vovó.

– Não filha, olfato é só o nome que se dá ao sentido. Você gosta é do cheiro do bolo da vovó. Principalmente quando ele acaba de sair do forno…

– Por isso que você dá aquele sorriso quando o papai faz café?

– Isso mesmo… porque eu adoro cheirinho de café passado.

– E aquela cara feia quando ele dá pum?

– Exatamente. Nem todo cheiro é bom…

– Cocô. Cocô tem cheiro ruim né mãe?

– Tem filha. Não sei por que Deus não inventou um cocô cheiroso.

– Eu sei outro cheiro ruim!

– Qual?

– Chulé.

– Ui. É mesmo.

– Mãe?

– O que foi?

– O que é cecê?

– Outro cheiro ruim. De sovaco que não tomou banho.

– Écate.

– Viu só como a gente tem que tomar banho.

– Mas eu gosto do cheiro do xampu do Bob Esponja. Tem cheiro de morango.

– É verdade. É muito gostoso.

– Qual é o cheiro que você mais gosta mãe?

– Hum, tantos. Gosto do cheiro da roupa que acabou de lavar. De doce de maçã, de cebola sendo frita no azeite. Cheiro de flor, de fruta. Mas de todos os que a mamãe mais gosta é de canela. Porque ela tem um cheiro mágico.

– Mágico? Por quê?

– Porque ela me leva a lugares distantes, imaginários. Como a terra do Aladim, sabe?

– Sei… puxa… que legal… você me mostra?

– Claro.

– Mas e a chuva, tem cheiro?

– Tem. Tem um cheiro maravilhoso de terra molhada.

– Mas o cheiro é da terra ou da chuva?

– Dos dois. Da mistura deles.

– Hum…

– Quando você nasceu seu pescoço tinha um cheirinho de Deus.

– O que é isso mãe?

– É o melhor cheiro do mundo filha. É o cheiro do amor.

– Ah, já sei. Seu colo tem esse cheiro.

– Querida…

 

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