As conversas com Clara antes de dormir podem ser surpreendentes.
– Mãe, tinha um menino na minha sala hoje com tanta cecê, mas tanto cecê…
– Sério filha? Que péssimo. Será que a mãe dele não sente?
– Não sei, mas era uma boa pessoa para avisar né.
– Cecê e bafo, se a gente tem intimidade com a pessoa, precisa alertar.
– Mas mãe, as pessoas não tão nem aí pros fedores. Precisa ver quanta gente na minha sala que peida e não tá nem aí.
– “Peida” filha? Mas isso é jeito de falar?
– Peida mãe. Todo mundo fala assim.
– Mas você é menina. Não dá para falar de outro jeito? Pior que o ato “peidar” é a palavra “peido”.
Nessa hora ela ri de gargalhar. Não aguenta a própria mãe.
– Tá mãe, como você quer que eu fale?
– Fazer um pum.
Ela gargalha de novo.
– Mãe, ninguém faz pum. As pessoas soltam pum.
– Tá. Fazer, soltar, não importa. Pelo menos a palavra “pum” é bem mais sonora que “peido”.
– Ah… isso você vai me desculpar, mas não é não. Peido é bem mais legal de falar. E no mais, peidar já um verbo. Uma palavra só já explica a coisa.
– Eu acho deprê.
– Pior que peidar é mijar.
– Não, cagar é pior.
– Não. Mijar é pior.
– E cagar? Ouve bem: ca-gar.
– Cagar as sílabas combinam.
– Tá, mas você não fala assim né. Pelo amor de Deus.
– Óbvio que não, mãe.
– Ué, não sei. Para mim, quem fala “peidar” pode muito bem usar “mijar e cagar” para se expressar.
– Não, mãe. Eu falo “fazer xixi e fazer cocô”.
– Ah tá. Mas por que xixi e cocô podem usar o verbo fazer, e o coitado do pum não?
– Tá bom mãe… a partir de agora vou soltar flatulências. O que você acha?
– Acho lindo.
– Melhor ainda: vou dizer que “ops, flatulei”.
– Flatulei é perfeito. Elegante e ainda por cima você ainda inventou um verbo. Mamãe gosta.
Ela ri de novo.
– Quem é você, mãe?
– Quem é você, Clara?
Acho que nunca ri tanto lendo um texto como neste! Nem com o Veríssimo (que às vezes me mata de rir) ou o velho e maravilhoso Stanislaw Ponte Preta (esse é capaz de você não conhecer). Bem, enfim… sensacional!!!