Férias espetaculares

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Férias é um período mesmo formidável. As crianças passam metade do tempo se divertindo, metade entediadas e as mães passam quase 100% do tempo querendo cortar os pulsos.

Para muita gente nesse mundo, férias é sinônimo de alegria e descanso. Dias deliciosos de repouso, pausa no trabalho, período sem compromisso. Viagens gostosas com a família para um hotel fazenda ou um resort daqueles de revista de viagem.

Não é o meu caso.

Férias no meu dicionário quer dizer: desespero. Um desafio hercúleo onde todas as minhas qualidades são colocadas à prova e todos os meus defeitos são grifados com marcador de texto fosforescente. Cara, eu sou uma pessoa paciente. Sou criativa. Tenho certeza de que sou uma mãe divertida. Mas sem dinheiro, sem empregada e sem ajuda, as férias tem se transformado num período de crises e superações. Vivo a beira de um ataque de nervos. Acordo todos os dias de manhã e me faço sempre a mesma pergunta – parodiando Pink e o Cérebro:

– Tati, o que você vai fazer hoje?

– O que faço todos os dias, tentar divertir minhas filhas.

Claro que as férias de inverno são mais difíceis que as de verão. Mesmo que intermináveis, as férias de dezembro, janeiro e fevereiro tem um poder de transmutação: o calor. Quando a temperatura esquenta, a galerinha vai lá para fora e qualquer programa aquático diverte. Por horas. Mangueira, banho de bacia, piscina, praia! No verão as crianças viram peixe e não se importam com absolutamente nada. Mas no inverno… no inverno a coisa complica. Todo mundo quer ficar entocado em casa, comendo tudo o tempo todo, jogando videogame ou vendo filme. Tudo lindo.  Até bater o tédio. Depois do terceiro filme e da 12ª bacia de pipoca, elas começam a dar curto circuito.

Clara até tenta. Fez uma listinha genial de ideias mirabolantes de coisas para fazer numas férias sem dinheiro, até mesmo a realização de um documentário sobre isso. A listinha tinha de tudo: criar um mapa de tesouros e depois ir atrás deles, vender brigadeiros (sendo que a mamãe faz e enrola claro), fazer um show no condomínio, fazer piquenique no topo do morro, montar uma barraca de lençol e fingir que está acampando, organizar uma festa a fantasia. Mas a melhor de todas foi A Cápsula do Tempo. Ela teve a ideia de produzir uma caixa onde colocaria objetos da nossa época (!) e cartas para gente guardar na caixa e só abrir daqui a 20 anos. Piramos. Ela e Catarina já fizeram as delas. Só falta a minha. Já comecei a carta umas três vezes, mas estou sem saber o que quero dizer a mim mesma quando estiver com sessenta anos. Loucura, gente. Coisa de Amelie Poulain! A questão agora é saber onde vamos enterrar a relíquia.

Não sei, mas nas férias todo o trabalho da casa aumenta tanto… Tudo se multiplica feito “Gremlins” na água. Roupas sujas nos cestos, roupas limpas na corda, sujeira nos cantos da casa, pipocas embaixo do sofá, bonecas saindo pelas gavetas, papeizinhos de BIS brotando do rodapé, essa fome infinita por gulodices, vizinhos entrando pelas portas e janelas buscando diversão na casa da Tia Tati. Ufa. Faço quilos e quilos de feijão mas não dou conta. Fui ao supermercado quase todos os dias, até que a moça do caixa me perguntou assustada com o aumento significativo de comida: mas a senhora não tinha duas filhas? É, mas os amiguinhos delas amam a nossa casa. Ai, ai.

Já fizemos de tudo. Argila, pintura, desenhos com giz, colagens. Peteca, bola, elástico. Jogos, mímicas, bolo de cenoura com brigadeiro. Cuca de banana. Spa. Tratamentos de beleza. Tardes de maquiagem. Filmes de aventura. Filmes de ação. Comédias. Já lemos livros, revistas, almanaques. Wii, Friv e todos os possíveis entretenimentos virtuais. Perdi a conta de quantas amiguinhas já vieram dormir. Já fiz e refiz um milhão de caminhas, um milhão de Toddys, um milhão de pães de queijo e as férias estão longe de terminar.

Tomara que nas férias de verão eu consiga relaxar um pouco. Me divertir mais do que me estressar. E poder entrar de verdade, de corpo e alma, na onda das minhas peixinhas. Não quero ser uma mãe chata, quero ser uma mãe sereia!

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