Tem uns tempos complicados na vida que ou a gente assume a necessidade de solucioná-los ou assume a necessidade de uma postura zen-budista perante eles. São os tempos esvaziados. Eles acontecem praticamente todos os dias da nossa existência. Fazem parte da rotina, do feijão-com-arroz, do escovar os dentes. Não tem como escapar. É o caso do tempo que esperamos um elevador. Pensei justamente nesse texto hoje depois do oitavo minuto sozinha na garagem, olhando a porta do elevador fechada. Eu já tinha tentado meditar, fechar os olhos, esvaziar a mente, respirar profundamente, ir fundo ao néctar do meu silêncio interior, mas não consegui. A irritação pela impressão de tempo perdido foi maior.
A mesma irritação me abate quando sou pega de surpresa e calho de ter que ir ao banco sem ter nada para ler dentro da bolsa. Banco é sinônimo de fila. E fila em banco é sinônimo de tempo esvaziado. Muitas vezes tento ser positiva, aproveitar para observar as pessoas, essa absurda diferença que há entre nós – indivíduos de mesma espécie – e todas as nossas curiosas particularidades. Crio uma história para cada um, depois vou juntando os enredos e tudo acaba em novela. Mas mesmo nessa compulsão-criativa-instantânea, esse ato desesperado de aproveitamento de tempo nada mais é que um retrato de tempo esvaziado também. Como se o próprio tivesse sido mesmo consumido sem propósito. Queimado. Desperdiçado. Jogado fora.
Tempo perdido em trânsito engarrafado então, não preciso nem falar. Todo mundo já falou, já sofreu, sofre e não há nada que se possa fazer. A inexorável realidade dos tempos modernos. Milhões de carrinhos, apertadinhos, engavetadinhos num gigantesco quebra-cabeça de ruas. E as pessoas lá dentro pensando – o que é mesmo que eu estou fazendo aqui? – e olha que pode ter boa música, boa companhia, snacks para comer, coca-cola geladinha que alguém acabou de te vender… nada aplaca a dor do tempo esvaziado.
A danação não tem a ver com o tempo que escapa. Mas com o que foge sem sentido. Gasto muito tempo olhando o céu quando ele está daquela azul de chorar. Olhando o que o sol faz com as coisas de manhãzinha. Observando Clara pintar com cotonete, a cebola fritar na manteiga. E as coisas que tem água então, nossa… gasto um tempo que nem sei. Nada melhor do que ver cachoeira cachoeirar. Até aquelas fontes de água em casa esotérica me hipnotizam. No ato. Posso ficar lá por horas vendo a água fazer nada.
A questão é que esse tipo de coisa não esvazia meu tempo. Mas preenche ele de um monte de riqueza. Há uma enorme diferença em ficar olhando a porta do elevador fechada esperando ele resolver chegar e olhar um arco-íris se desfazer no céu. São tempos completamente diferentes. O primeiro é como estar olhando a areia da ampulheta cair, a outra é ver o milagre da vida se expandir. Por que eu não subo de escada? Ah leitor, eu não sou uma atleta. E no mais, subir escada também é um tempo esvaziado. A não ser que elas tenham enormes janelas dando para o mar.