Ah… falar sobre onde eu ainda quero ir nessa vida é fácil.
É quase como fechar os olhos e fazer planos com o prêmio de uma loteria. Vivo fazendo isso, mesmo sem nunca jogar.
Numa das cenas que eu mais amo de “Comer, Rezar e Amar”, a personagem do filme conta a história de um homem que vivia na igreja pedindo ao santo para ganhar na loteria. Todos os dias ele fazia o mesmo pedido pro santo: “me ajuda a ganhar na loteria, me ajuda a ganhar na loteria”. Um dia o santo se irritou, abriu os olhos e disse para ele: “te ajudo, mas compra um bilhete, compra um bilhete.”
Essa história me toca muito porque não adianta você sonhar desesperadamente com alguma coisa se não faz por onde essa coisa chegar até você.
Passei boa parte da minha vida vivendo no modo pipa.
Modo pipa é aquela pessoa que vive voando, dispersa e solta como uma pipa, com os pensamentos lá longe. Sonha com a vida, tem um milhão de ideias e projetos e não realiza nenhum porquê não tem nada de concreto que a faça realizar nenhuma das coisas que vive sonhando. É alguém que não tem pé no chão, nem raiz que nutra seus sonhos.
Foi preciso muito tempo de terapia para eu conseguir enxergar que esse modo de ser, apesar de romântico e poético, não me servia para nada no mundo real. Claro que também tinha a questão da minha enorme dificuldade com o mundo real. Até porque realidade, convenhamos, é algo bem subjetivo. Difícil colocar todo mundo numa mesma camada de compreensão do todo, até porque isso envolve infinitas perspectivas. Mas simplificando, a verdade é que eu entendi muito bem entendido que para realizar os sonhos, eu precisava fazer minha parte.
Então hoje, quando eu sonho com todas as coisas que ainda quero fazer, todas elas partem do pressuposto que eu vou ter ralado para caramba para chegar lá. Mas enfim.
Depois do sonho de ser mãe, o maior sonho da minha vida ainda é conhecer o mundo. Eu já tive a sorte de sair do Brasil algumas vezes na minha juventude, mas agora o sonho é ver o mundo da perspectiva dessa Tatiana mais velha. Mais cascuda. É uma gana por conhecer pessoas, lugares e culturas que me façam apreender o mundo da forma mais expandida possível. É o desejo profundo de viver experiências que só vou poder viver se atravessar fronteiras.
Então, o plano é um dia desses conseguir o emprego dos sonhos: conseguir alguém que me pague para escrever sobre as viagens que vou fazer. Gente! Isso existe! Tem gente que ganha dinheiro com coisas inacreditáveis. Essa gente deve ter feito coisas muito boas em outras vidas para merecer esse trabalho não? Por exemplo: gente que ganha para experimentar as comidas do mundo. Sério, que pessoa é essa que tem esse emprego? A reencarnação de alguém muito especial, com certeza.
Mas meu plano é comprar um motorhome e sair pelo mundo vivendo, observando, integrando e escrevendo. Olha para isso, gente! Não é um sonho incrível?
Para qualquer lugar que eu vá no meu futuro, eu só peço uma coisa pro meu santo: que seja sempre com meu caderno, minha caneta e essa curiosidade infinita que me provoca a vida. Quero ficar velhinha e sentir que o mundo ainda me espanta. E deixar alguns livros para os meus netos saberem quem eu fui e como senti a existência. Não é pedir muito, é?
Bem… o que eu acho mesmo de sonhos é que eles são nuvens num céu azul – o vento leva se a gente não se detêm na sua observação! Mas é preciso observá-las bem, sentir seu peso, sua grandeza, registrar sua forma movediça e absorver a energia extraordinária que mora ali dentro. É preciso saber do que são feitas as nuvens!
Depois vem a parte do trabalho porque os sonhos precisam ser transformados em projetos! Caso contrário serão sempre sonhos que, em geral, a gente esquece logo nos primeiros movimentos do dia.
Não deixe de sonhar Tati, mas observe bem como é esse sonho e depois transforme em projeto, faça planos! Isso não é sonhar, isso é viver de verdade o que a alma deseja!