Janeiro a gente tem uma energia bárbara para recomeçar.
Por mais que a gente tenha aprendido que não dá para fazer mil promessas de mudança no ano novo, não dá para negar que tem uma força cósmica de abertura para novos propósitos e acertos do que ainda sonhamos fazer.
Aí a gente corre para comprar uma agenda nova, daquelas cheirosas e em branco que vê na prateleira da papelaria e se apaixona, como se aquele objeto pudesse conter todas as nossas chances de recomeçar do zero e sonhar com a nova vida que mora dentro dela.
Faço agendas desde os meus 10 anos de idade. Naquela época contava com detalhes meus dias vividos como se a vida fosse um filme a ser compartilhado com o mundo. Tenho até hoje as agendas que tive até parir as meninas. Um verdadeiro tesouro para minha futura biografia.
Agora existem os planners. Agendas ainda mais estilosas e feitas sob encomenda para nos dar ainda mais esperança de conseguirmos nos organizar com os planos da vida. Uma coisa.
Pois bem.
Mas não era exatamente sobre isso que eu queria falar.
Ontem, olhando um tempão para um fila de formigas extraordinária que atravessava meu terraço, eu pensei no quanto não nos planejamos, ou abrimos espaço, para os compromissos da alma. Sim, porque as agendas e os planners da vida guardam todos os encontros importantes, compromissos de trabalho, reuniões, lembretes de consultas de médicos, listas das infinitas tarefas que precisamos dar conta no nosso dia-a-dia, mas não contempla um único espaço para a demanda do que anseiam fazer nossas almas.
A gente precisa lembrar do oftalmologista? Claro que precisa. Mas e parar para ver o pôr-do-sol? Não deveria ser tão importante quanto?
John Lennon dizia uma frase perfeita sobre isso: “a vida é aquilo que acontece enquanto você está fazendo outros planos”.
Talvez a gente pudesse pensar a partir de agora em fazer um Planner da Alma também em janeiro. O que vocês acham?
Abrir uma agenda para as demandas da alma. Compromissos que a gente pudesse honrar com tudo aquilo que a nossa alma deseja, mas nunca encontra tempo para fazer. Por exemplo: dar um mergulho no mar. Ir a praia e escutar o vento. Ir tomar um sorvete com um amigo e pedir para ele escolher um sabor surpresa. Planejar um banho de cachoeira por semana. Marcar hora para um banho bem relaxante e cheiroso. Rever o filme que mais amamos nos últimos tempos, só para curtir de novo o sentimento maravilhoso que ele nos deixou. Meditar olhando a chama de uma vela. Comer um milho verde na barraquinha da esquina. Dançar uma música bem alta em casa sozinha. Tocar tambor. Assoviar na janela. Ir em busca de um pomar para colher uma fruta do pé. Tomar banho de chuva. Tirar uma soneca sem culpa de tarde. Bater um bolinho só pelo cheiro que vai deixar na casa. Nossa… minha lista não tem fim.
Cada alma sabe exatamente o que anseia fazer. Elas vivem nos dando dicas do que desejam, mas a gente quase nunca tem tempo para elas.
Algo muito profundo em nós vai agradecer. Disso eu tenho certeza. Afinal, a vida não é feita só de compromissos. Muitas vezes, ganhamos vida quando perdemos tempo. E isso, só a alma sabe fazer direito. Mais ninguém.