Dizem que os cronistas são pessoas profundamente nostálgicas.
Não sei quem inventou essa teoria, mas está coberto de razão.
É um complexo “Meia-noite em Paris” incontrolável.
Um desejo constante de voltar no tempo para viver certas coisas que nunca mais se ouviu falar.
Como sair para dançar, por exemplo.
Outro dia me peguei tentando explicar para as meninas o que significava “sair para dançar” na minha juventude.
(acho que chamar o passado de juventude já é uma dica do meu jeitão saudosista, mas tudo bem)
Elas simplesmente não conseguiram imaginar o que seria esse programa.
Agora estamos numa pandemia, mas quando o mundo era normal – outro dia mesmo – e a gente queria sair para se divertir, quais eram as opções? Um restaurante, um barzinho com música ao vivo? Com sorte uma festinha de amigos?
Nos meus tempos de gatinha, o programa era sair para dançar.
A gente até parava antes em algum barzinho para tomar umas biritas, mas o maior objetivo da noite era ir para uma boate para dançar. Arrasar nos passinhos ou “abrir as asas para cair na gandaia”. Ah gente. Que maravilha que foram os anos 80 e 90. Parece que tudo aquilo aconteceu há um século atrás. Eram outros tempos, eu sei. Mas a impressão que me dá é que em três décadas o mundo mudou completamente.
Comecei a vida indo a matinês. Circus. Help. Depois cresci e comecei a frequentar os lugares mais descolados da noite carioca. Numa época que não existia celular, ir ao Wells Fargo e poder paquerar com a mesa ao lado através de um telefone instalado na mesa era uma coisa extraordinária. Quem lembra do banho de espuma que rolava no fim da noite na Zoom em São Conrado? Gente, a boate derramava um banho de espuma na pista de dança para encerrar a noite. Vocês entenderam? Depois teve a fase de dançar lambada no Hippopotamus. Ser expulso duas da manhã da boate do Piraquê. Correr atrás dos shows da Rio Sound Machine onde eles estivessem tocando: Ballroom, Jazzmania, Mostarda, Mistura Fina. Nossa Senhora. Showzinho da Rio Sound era o auge naquela época. Ainda teve a fase de ir dançar Black Music na Public. e Co na Pacheco Leão, numa noite surreal comandada pelo Gustavo Corsi, guitarrista da Rio Sound, que fazia tremer o Jardim Botânico. A gente voltava para casa amanhecendo sem sapato, com a alma lavada, de tanto dançar.
Isso não existe mais. A galerinha que quer dançar hoje só tem duas opções: ou eles vão para o baile funk. Ou para alguma boate dançar… funk.
Tá, eu sei que de vez em quando rolam umas festinhas com um ar de “anos 80”, tipo festa PLOC ou festa do Flashback, mas não é a mesma coisa. Minha irmã diz que tem uns bailinhos de charme na zona norte do Rio maravilhosos, mas eu nunca fui. Um pouco de preguicinha talvez. Ou eu tô ficando velha mesmo.
A última vez que me acabei de dançar foi na minha festa de 45 anos. Os amiguinhos das meninas ficaram chocados como eu não saia da pista. Meus amigos também se acabaram. No dia seguinte eu não conseguia levantar. Só depois de dois Dorflex e muita bolsa de água quente na lombar e um escalda pés nas bolhas do joanete.
É pessoal, acho que eu tô mesmo é com saudade de fazer qualquer aglomeração, para me sentir viva de novo. Jovem não, porque não troco minha vida de hoje nem por 15 minutos da juventude. Mas a alegria e a descontração de alma que a gente tinha naqueles tempos, não tinha igual.
E o que temos para hoje? Dançar bumbum tantan para a vacina. Ah gente? Não dá para ser com I WILL SURVIVE?
mãe, você é muito engraçada. levarei você pra dançar em todos os lugares possíveis. confia em mim! te amo!
Bora fazer uma festinha quando essa loucura toda acabar?
Sensacional minha irmã!!Saudades dessa época também!
Issaê! Clarinha, dá a dica de onde se dança, por favor!
Aposto que quando o bicho parar de pegar não vai faltar é lugar pra dançar. Nem que seja na rua mesmo!