Dizem que o homem não vale pelo que é nem pelo que tem. Mas sim para o que serve.
Acho essa frase um soco na boca do estômago, mas ela me faz pensar.
Outro dia, desesperada com as contas para pagar, eu subi no terraço e fui olhar o céu para ver se me acalmava. Naquele exato momento, o sol estava se pondo e as cores do céu estavam explodindo nuns laranjas misturados com uns violetas. Tinha umas nuvens carregadas de branco e um cinza chumbo, porque estava armando uma chuva daquelas de fim de tarde. Tudo aquilo parecia uma enorme e deslumbrante tela abstrata que Deus tinha acabado de pintar. Fui tomada por uma emoção indescritível. Tive vontade de chorar, de gritar, de chamar as meninas, de tirar uma foto ou sentar ali mesmo com um bloquinho e uma caneta para ver se eu conseguia traduzir em palavras o que eu tava vendo.
Dinheiro para pagar as contas eu não tinha.
Mas tinha um céu inteiro explodindo em cores na minha frente. Só para mim.
Depois que a coisa passou eu pensei:
“Como é que pode um pôr-do-sol me fazer sentir tantas coisas?”
Foi quando um pensamento me invadiu: porque eu só sei sentir. Aliás, sentir é o que sei fazer de melhor nessa vida. Sentir e eternamente tentar traduzir aquilo que sinto. Ia ser bem legal se um dia alguém me oferecesse um emprego só para sentir.
Porque se eu não valho pelo que sou nem pelo que tenho e sim para o que sirvo, eu sirvo para sentir. Isso devia existir no mundo!
Já imaginaram? Eu preenchendo uma ficha de cadastro? Profissão: SENTIR.
Tem um provérbio xamânico muito lindo que diz:
Sinto, logo compreendo.
Esse é o meu lance com a vida.
Talvez por isso não seja considerada pelo mundo como uma pessoa de sucesso. Quase não consigo pagar minhas contas, não tenho casa própria, não acumulei propriedades nem bens.
Mas sei sentir as coisas mais extraordinárias e esdrúxulas e inexplicáveis que um ser humano já sentiu. Isso deve ter seu valor, não?
Em algum mundo deve ter. Só não descobri qual.